Eleições em Moçambique
jpt, 11.10.24
Sou um mero "torna-viagem", e com o tempo passado já não "apanho" o que se passa em Moçambique. Anteontem foram as eleições. Não acreditei que delas saíssem grandes mudanças, dado ser consabido o peculiar exercício eleitoral no país. Ainda assim procurei agora na imprensa portuguesa notícias frescas. A RDP tem uma enviada, que fará o que pode. Nos outros órgãos de comunicação social nada surge! Há coisas que por cá nunca mudam.
Independentemente de novas que vou recebendo via amigos retiro já duas certezas:
1) o ano passado houve eleições autárquicas. O Estado proclamou a vitória do Frelimo em todos os municípios, excepto a Beira (onde concedeu vitória ao MDM)! Um ano depois a "esmagadora" vitória não parece repetir-se. Ou, pelo menos, será difícil repetir tão "esmagadora" proclamação. Ainda que a "comunidade internacional" sempre compactue com o típico manuseio do escrutínio, há limites - internos, não "internacionais" - para garantir alguma legitimidade política.
2) quando se discutia quem seria o candidato presidencial do RENAMO logo surgiram críticas à "ilegitimidade" e "impertinência", até a falta de suporte regulamentar, da apresentação de candidatos internos, afirmando-se a inadmissibilidade de questionar a candidatura do seu presidente Momade, veterano da guerra - uma situação típica deste tipo de movimentos político-militares. Um dia fui convidado para ir falar sobre isso à RTP-África. Disse o que pensava: que isso significava a falta de democraticidade interna daquele partido, implicando a sua falta de vínculo à democracia. Algo necessário de dizer aos que acreditam na malevolência (antidemocrática) do Frelimo vs a virtude (democrática) do oposicionista Renamo. E deixei implícito (pois não o dizendo sí-la-ba a sí-la-ba) que aquele fechamento significava a deriva suicidária daquele partido. A minha opinião vale o que vale - e pouco, pois nunca mais foi convidado a perorar.
Os resultados iniciais (as contagens oficiais ainda demorarão, pois terão de ser "ajustadas") são já esclarecedores. A candidatura de Momade e do RENAMO têm resultados irrisórios... E a candidatura de Venâncio Mondlane e do seu PODEMOS (um "yes, we can") são muito bons (logo se verá no fim, que percentagem lhe será "atribuída"). E enormes em Maputo, o sempre bastião do FRELIMO, região onde é mais fácil apurar resultados oficiosos quase de imediato. A mostrarem, entre outras coisas, que numa população demograficamente tão jovem as velhas legitimidades guerreiras, anticoloniais ou pós-independência, já não imperam. Ainda por cima tão maculadas estão pelo exercício do... poder.
Mas há já uma conclusão, esta que o Nobel da Literatura Bob Dylan cantou há 60 anos sobre o seu país: "os tempos estão a mudar". Que seja para melhor, seja lá como for. Porque, como se canta cá em Portugal, "para pior já basta assim!".