Eleições em França
A Frente Nacional de Marine Le Pen deverá ter hoje um resultado histórico na primeira volta das eleições regionais francesas. O centro-direita liderado pelos republicanos é favorito em sete das 13 regiões, mas a extrema-direita pode conquistar pelo menos uma região, isto pela primeira vez (a segunda volta será dia 13). Ostracizada durante décadas, a FN é agora uma das três maiores forças partidárias, provavelmente a segunda. Usando feroz demagogia, este e outros grupos nacionalistas estão a transformar a paisagem política da própria Europa.
Em Portugal, é ainda mal compreendido o descontentamento dos eleitores europeus, a islamofobia e a sensação de crescente divórcio que tantos franceses sentem em relação às suas elites políticas e mediáticas. Os votantes da FN pensam que os líderes da França vivem numa realidade paralela. Muitos destes eleitores descontentes enfrentam diariamente choques culturais com vizinhos muçulmanos, consideram que o país tem um grave problema de identidade e que a linguagem política se transformou numa forma de negação. O avanço da extrema-direita é sintoma de mudanças mais profundas a decorrer em toda a Europa, em reacção ao fosso entre eleitores e eleitos criado pela União Europeia. Este distanciamento é reconhecido por todos, mas não parece ter soluções pragmáticas, o que acentua a ideia de cinismo dos dirigentes.
A recente crise das migrações dividiu ainda mais a UE e está a radicalizar o discurso dos populistas. Políticos e comentadores aderiram rapidamente à ideia de abertura de fronteiras, classificando as cautelas como xenofobia, mas os média não viram as próprias reportagens, onde se relatava que dois terços dos migrantes não eram refugiados, que a proporção de famílias era baixa, que as regras de segurança europeias não estavam a ser cumpridas nas fronteiras externas. A crise migratória acentuou a ansiedade dos descontentes, sobretudo nos países com maiores comunidades muçulmanas. Segundo indicam as sondagens, a FN pode igualmente ter subido mais de quatro pontos percentuais após os ataques terroristas de Paris.

