Eleições antecipadas?
As eleições europeias demonstraram, para quem tivesse alguma dúvida, que afinal o país é terreno fértil para o surgimento de novos partidos e movimentos, a partir do momento em que os partidos do arco da governação não conseguem encontrar alternativas à actual situação. Na verdade, PS e PSD continuam amarrados à ortodoxia europeia e dela não conseguem sair, mesmo quando a União Europeia se vai paulatinamente transformando numa instituição antidemocrática, gerida pela Alemanha. O facto de Merkel e Cameron terem discutido sem problemas uma alternativa a Juncker, mesmo depois da farsa que foi a sua apresentação como candidato nas eleições europeias, diz bem daquilo que é hoje a União Europeia.
Impossibilitado de encontrar uma alternativa à sua política actual, o PSD decidiu agora entrar numa guerra contra o Tribunal Constitucional, de que esta entrevista de Teresa Leal Coelho é o mais recente exemplo, onde chega a ameaçar os juízes com sanções, a fazer lembrar Afonso Costa na I República. É preocupante a forma como o Presidente tem lavado as mãos destes ataques, mas o que é duvidoso é se ficarão por aí. Na verdade, isto pode ser uma tentativa de o Governo antecipar as eleições legislativas, alegando impossibilidade de governar, perante novos chumbos do Tribunal Constitucional. Cavaco também pode estar a preparar essa solução, alegando a impossibilidade de a actual legislatura conseguir o consenso que voltou ontem a exigir. Ora, eleições legislativas neste momento poderiam ser dramáticas para o PS, embrulhado num longo conflito interno, e com um líder que todos os dias perde terreno, mas que seria apesar disso o candidato a primeiro-ministro.
É por isso que tenho defendido que António Costa cometeu um sério erro político quando aceitou primárias no PS, em lugar de exigir o Congresso, erro que só agora está a tentar corrigir, mas que não sei se ainda irá a tempo. Na verdade, com esta história das primárias, o PS vai ficar durante meses em posição altamente vulnerável, e será grande a tentação dos partidos da maioria de aproveitar a situação para desencadear já eleições. Claro que há o simbolismo de a coligação levar pela primeira vez uma legislatura até ao fim, mas não me parece que esse simbolismo valha mais do que a continuação dos partidos da maioria no poder. No fundo o raciocínio poderá ser este: se o PS de Seguro nunca foi alternativa, porque não fazer eleições no último momento em que este continuará a não o ser?