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Delito de Opinião

E o nível, Senhor, o nível?

Sérgio de Almeida Correia, 13.01.22

35222448-1600x1067.jpg(Créditos: Lusa, daqui

Há dias, no DN, a propósito destes tempos de mediocridade em que vivemos, escrevia Jorge Costa Oliveira ser necessário que a “política tenha elevação e seriedade suficientes para que haja quem fale - e haja quem ouça - sobre os principais problemas que afligem a sociedade”, sendo por isso mesmo um disparate centrar uma campanha eleitoral (pré-campanha) em “debates de 25 minutos (!) em que nenhum problema relevante pode ser discutido seriamente”. Concluía referindo que actos “deste calibre de estupidez num timing histórico desastroso” raramente se terão visto.

Quando li não sei se fiquei totalmente de acordo com o que ali se registou. Mas as poucas dúvidas que ainda tinha, depois de ver as prestações de Costa, Rio, Martins, Sousa, Tavares, Figueiredo e Real, esperava perdê-las com o "debate" de ontem entre o líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, vulgo “Chicão”, e o líder do Chega, André Ventura.

Verdade se diga que embora jamais esperasse que dali brotasse uma ideia, uma faísca que fosse, habituado como estava desde as suas primeiras intervenções a ouvir os chavões e as frases mal decoradas do “Chicão”, citando Ronald Reagan (sic), e os dichotes e recortes de jornais de Ventura, ambos recorrendo a um estilo algures entre a conversa de caserna com pretensões e a do arrieiro, nunca pensei que o diálogo acabasse por ser tão elevado e esclarecedor. 

Para vinte cinco minutos de “debate” foi obra (“mariquinhas”, “trauliteirazinha”, “agora já não falas de futebol”, “chorrilho de alarvidades”, “mete-os na tua casa”, “Ó Francisco, desculpa lá”, “cata-vento político”, “rei da bazófia”, “inimputável”, “fanático”, “populista”, “nojo é que você devia ter”, “fale disto com os seus amigos”, “fina flor do entulho”, “você é o primo sozinho”, “você é o primo do Salvini”, e por aí fora). Chicão e Ventura não podiam ser mais eloquentes. Fiquei siderado.

A conclusão que dali retiro é, assim, como aliás demonstrado pelos líderes do CDS-PP e do Chega, a que já esta semana foi aventada pelo singular Miguel Esteves Cardoso, e que àqueles partidos assenta que nem uma luva: “os pequenos partidos perdem personalidade e eficácia quando se tornam médios, até porque deixam de ser pessoas e passam a ser partidos”. 

O CDS-PP é hoje o “Chicão”, "o da barretina". O Chega é o Ventura, "o dos ciganos". Ambos lutam para ser partidos "médios". Não se percebe bem para quê. Seria bom que eles se mantivessem assim, pequenos, para não perderem energias a quererem crescer para médios. E, depois, para chegarem a grandes. É preciso evitar a todo o custo a sua descaracterização, porque quando pequenos é “pequeninos que eles se querem”.

O CDS-PP e o Chega bem que poderiam ficar como estão. Ou até mais pequenos. Minúsculos. Para não perderem “personalidade e eficácia”.

E quanto mais não seja para poderem manter o tempo de antena. E o nível do verbo. Isto é, a genuinidade do discurso vernacular que os afirma e garante audiência junto das claques desportivas, das estrebarias e das tabernas do país.

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