Doze obras-primas dos museus de França (9)
A apreensão do instante, a mulher amada levada pelo sonho, pelo silêncio e a melancolia, numa cena de profunda tranquilidade. Pierre Bonnard (1867-1947) deixou-nos aqui a "fotografia" de Marthe Bonnard, que nascera Boursin e depois se tornou Marthe de Méligny antes de acabar Bonnard, e por quem o pintor se apaixonou depois de a ter conhecido em circunstâncias pouco usuais. Pierre salvou Marthe de um acidente de autocarro e rapidamente se perdeu de amores pela mulher que se tornaria a sua musa e com quem casaria em 1925. O quadro, datado deste mesmo ano, faz parte de um conjunto de cerca de mil outros onde ela aparece, alguns deles nus verdadeiramente impressionantes ainda este ano expostos em L’Annonciade, Museu de Saint-Tropez, numa mostra dedicada aos nus que terminou no passado mês de Junho. Para se perceber a influência de Marthe na obra de Pierre Bonnard convém ter presente que o artista pintou cerca de quatro mil telas. Inserido por alguns já no movimento pós-impressionista, Bonard fez parte do chamado grupo de artistas experimentalistas, conhecido por Nabis, palavra derivada do hebraico "nebiim" que significava "profetas". Admiradores de Gauguin, o grupo incluía os nomes de Maurice Denis, Paul Sérusier, Paul Ranson, Édouard Vuillard e Ker Xavier Roussel. Bonnard tornar-se-ia mais tarde no líder do grupo dos intimistas. O corpete vermelho, conhecido como Le corsage rouge, é considerado um dos expoentes da sua versátil obra. O artista pinta a realidade como a sente, já não como ela surge aos seus olhos.