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Delito de Opinião

Doze mil quilómetros já em pré-campanha

Pedro Correia, 29.11.22

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A próxima eleição presidencial será só em 2026. Mas há um candidato já em pré-campanha que não perde uma oportunidade para se exibir nas pantalhas em busca da notoriedade que ainda lhe falta junto de muitos portugueses.

De cachecol ao pescoço, como se houvesse frio nos quase 30 graus de ontem no Catar, o presidente da Assembleia da República não perdeu a oportunidade de perorar sobre a selecção nacional de futebol, dando a entender que a evental ausência dele em Doha seria um delito de lesa-pátria. Por isso decidiu voar cerca de 12 mil quilómetros, ida e volta, fomentando as emissões de dióxido de carbono: segundo os activistas do ambiente, as viagens aéreas contribuem para 5% do aquecimento global.

 

Seria interessante saber quantos presidentes de parlamentos europeus já lá foram em romagem por estes dias. Muito poucos, sou capaz de apostar. Também teria interesse indagar se Augusto Santos Silva aproveitou a ocasião para conferenciar com o seu homólogo catariano - se é que podemos chamar parlamento à denominada Assembleia Consultiva do Catar, com 45 membros mas apenas 30 eleitos por sufrágio popular. Os restantes são escolhidos pelo Emir. Nenhum deles pode questionar o primeiro-ministro excepto com aprovação prévia de dois terços dos supostos deputados, o que raras vezes - ou nunca - ocorre.

Sobre os direitos humanos que ali são violados de diversas formas, o presidente da AR chutou para canto: nem ousou um sopro de indignação. E até nos equiparou ao Catar numa frase capciosa em que compara o incomparável: «Todos temos de avançar muito nessa e noutras matérias [direitos], temos muito de melhorar. Isso aplica-se a todos os países, incluindo a Portugal.» 

Vai longe o tempo em que Santos Silva gostava de «malhar na direita». A não ser que o Emirado do Catar agora seja de esquerda, hipótese a considerar.

 

ADENDA. Espantosa ironia: o putativo candidato presidencial do PS faz-se fotografar e filmar defronte dos logótipos da Coca-Cola, do Visa e da corrupta FIFA. Nem sei que legenda hei-de pôr nesta foto.

2 comentários

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    RPC 29.11.2022

    Independentemente da cor do cachecol, ele podia tê-lo a tapar a careca, e até poderia ser de acordo com a moda local. Evitava o frio, a areia, e, sobremaneira, o ter de lhe vermos a careca (a tal ambição presidenciável antes do devido tempo).
    Mas que o homem é das arábias, é! E nós, uns perfeitos camelos. (Estamos bem uns para os outros).
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