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Delito de Opinião

Doze dias depois, sem demissões

Pedro Correia, 28.06.17

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 Foto: Rafael Marchante/Reuters

 

Em 4 de Março de 2001, caiu a ponte de Entre-os-Rios. Balanço trágico: 59 mortos. O ministro do Equipamento Social, Jorge Coelho, demitiu-se nessa mesma noite.

Em 14 Junho de 2017, um pavoroso incêndio numa torre de apartamentos em Londres provocou 79 mortos. O responsável máximo da autarquia londrina de Kensington e Chelsea, local onde se encontra implantado o edifício, demitiu-se oito dias depois.

Em 17 de Junho de 2017 ocorreu o mais mortífero incêndio florestal de sempre em Portugal, causando 64 mortos e 254 feridos. Mais de quatro dezenas destas vítimas morreram numa estrada nacional para a qual tinham sido encaminhadas por agentes da autoridade. O Estado falhou em toda a linha na sua elementar missão de preservar e acautelar vidas humanas.

 

Chegámos ao 12.º dia após a catástrofe. Nem uma demissão: todos continuam nos seus cargos. Tanto nas estruturas de comando da Guarda Nacional Republicana como na Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interma, que gere o controverso SIRESP. Tanto na Autoridade Nacional da Protecção Civil como no Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

O director nacional da Polícia Judiciária, que se apressou a  afastar a hipótese de "origem criminosa" do incêndio de Pedrógão Grande com assombrosa leviandade antes do início de qualquer investigação, mantém-se em funções. Tal como o director operacional da Protecção Civil, que começou por garantir aos portugueses a eficácia do SIRESP  ("falhas inferiores a meio minuto"), prontamente desmentida pelos factos já apurados, e o presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil, seu responsável imediato.

Assistimos a um indecoroso jogo de passa-culpas, sob a resignada apatia da ministra da Administração Interna, também agarrada ao lugar.

 

A ética da responsabilidade, tão apregoada nos discursos, continua ausente em parte incerta. Como se fosse possível esconder 64 vítimas mortais e silenciar explicações a um País ainda em choque que se mantém à espera de respostas.

 

 

Leitura complementar: O Estado falhou, mas a culpa é da Judite de Sousa.

(Editorial do i, assinado pela Ana Sá Lopes)

11 comentários

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    Anónimo 28.06.2017

    Não é só ele. O mal está muito generalizado.
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    Pedro Correia 28.06.2017

    Mais generalizada ainda é proliferação de anónimos. Pior que a filoxera.
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    Zé Ninguém 28.06.2017

    Sim, mas são eles (ou nós) que apimentam os blogues. Pior que blogue sem anónimos, só mesmo blogue sem comentários.
    E que viva o Delito com todos os seus anónimos que não são poucos.
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    Pedro Correia 28.06.2017

    De acordo. Um dia destes passamos até a eleger o Anónimo da Semana.
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    Ze Alguém 28.06.2017

    Por acaso acho muito boa ideia: eleger o melhor comentário de um anónimo. Pode identificar-se pelo dia e hora em que fez o comentário. Acho uma óptima ideia. Mais, é capaz de ser uma das poucas ideias interessantes apresentada por um dos donos do blogue. Apoio o Zé Ninguém: "E que viva o Delito" e acrescento: o mais original de todos os blogues. O mais pluralista, o que tem mais comentários e de gente muito (a)variada.
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    Makiavel 29.06.2017

    Mas que fixação acerca dos anónimos que comentam nos blogues.
    O valor do que se diz (num blog, evidentemente) é independente da sua assinatura. Ou somos adeptos da crítica ad hominem?

    Quanto ao conteúdo: de facto, 64 mortos deveriam ter consequências traduzidas em demissões. Se os próprios não reconhecem responsabilidades no sucedido e não se demitem, os inquéritos lá chegarão. Poderá suceder que as conclusões dos inquéritos apontem responsáveis pelo sucedido e não sejam aqueles que desbragadamente se deseja. Mas isso é outra questão.

    Tomando como verdade o que tem saído, parece-me que ter uma viatura do SIRESP avariada e outra em reparação nesta altura do ano não é lá grande gestão de recursos da protecção civil.
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    Pedro Correia 29.06.2017

    Estamos de acordo no essencial, que nunca pode ser confundido com o acessório. E o essencial é encontrar todas as respostas, sem subterfúgios nem biombos, que permitam explicar como ocorreu esta tragédia. A tese da "trovoada homicida" já caducou. E a da "árvore assassina" hoje não convence ninguém: lamento que o director nacional da PJ tenha sido o primeiro a anunciá-la ao País sem investigação nem fundamento.
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    Makiavel 29.06.2017

    Nunca ouvi falar nessas teses.
    Apenas ouvi falar nisso como factores que iniciaram o fogo. E parecem-me bastante plausíveis.
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    Pedro Correia 29.06.2017

    A da "árvore assassina" equivale à história da carochinha. Infelizmente avalizada e propagada pelo responsável máximo da PJ quando a floresta ainda ardia, sem qualquer investigação credível.

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    Makiavel 29.06.2017

    Nunca tinha ouvido falar nessa. Cheira-me a soundbyte.
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