Vencer com paixão
No desporto há dois tipos de vencedores: aqueles que, de acordo com as suas competências e capacidades, vão gerindo a sua carreira de forma metódica e cuidada, com muito trabalho e empenho, apoiando-se e confiando numa equipa para alcançar os seus êxitos; e há aqueles que, para lá disso tudo e do talento que é sempre preciso ter, emanam uma forte paixão, uma estética intangível, uma irreverência e um espírito combativo destemido, muitas vezes em desafios quase condenados ao fracasso. São aqueles atletas que arriscam sempre, que vão contra tudo e contra todos. São aqueles atletas que emocionam, que fazem sonhar, que levam crianças e adultos a chorar pelos seus feitos ou desaires. Alberto Contador é um desses atletas. O que se viu este Sábado na penúltima e decisiva etapa da Vuelta na subida ao mítico Alto do Angliru foi grandioso e memorável, daqueles momentos que ficam na memória de todos os que gostam de desporto, em geral, e de ciclismo, em particular. Era o último desafio de Contador antes de terminar a sua carreira, com o fim da Vuelta este Domingo. Ele sabia que tinha de chegar em primeiro ao topo do "inferno" do Angliru. Todos nós esperávamos isso, como se tratasse de um final épico cinematográfico. Contador atacou logo ao início da subida e foi passando por todos os ciclistas à sua frente. Paixão, sacrifício, talento, arte... deixou tudo na estrada, ao mesmo tempo que era retribuído pela euforia de milhares de pessoas em delírio. No fim, ganhou. O desporto assim, é simplesmente belo.