Dois acontecimentos editoriais
São de fresca data, merecem registo e aplauso. Refiro-me a dois verdadeiros acontecimentos no nosso mercado literário.
O primeiro, lançado ainda em Dezembro, é o monumental volume (809 páginas) dos Diários de Sylvia Plath, incluindo os trechos expurgados pelo marido da malograda escritora, Ted Hughes, e recuperados em 1999, após a morte deste. O público português dispõe enfim desta obra no nosso idioma: são oito diários principais, redigidos entre 1950 e 1959, e quinze fragmentos de cadernos de apontamentos, iniciados em 1951 e prolongados até 1962 - meses antes do suicídio da autora de Ariel. Lançamento com a competência a que a Relógio d'Água já nos habituou. Destaco a excelente tradução de José Miguel Silva e Inês Dias.
O segundo, chegado às livrarias já este mês, é História de um Homem Comum (título original: Coming Up for Air). Único dos seis romances de George Orwell que permanecia inédito em Portugal. Elaborado em 1938, pouco depois da saída do escritor de Espanha, onde combateu nas fileiras republicanas, é uma sátira à sociedade britânica das décadas iniciais do século XX. «Um romance notável, ao mesmo tempo divertido e dolorosamente verosímil», como assinalou à época o jornal australiano The Age. Edição da E-primatur, outra chancela que prima pela qualidade. Com tradução digna de elogio de Jacinta Maria Matos, que também assina a introdução.
Obras que tenho o maior gosto em saudar aqui. Os editores, Francisco Vale e Hugo Xavier, merecem um cumprimento deste leitor atento e grato.