Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Diz que é uma espécie de jornalismo

Pedro Correia, 04.11.25

aaaaa.jpg

André Ventura, o tal que se queixa de ser menosprezado pela "comunicação social falida", não perde uma oportunidade para aparecer nesses mesmos órgãos de informação. Logo à noite vai protagonizar a sua 38.ª entrevista televisiva do ano, desta vez na RTP. Em "rigoroso exclusivo" - tal como as 37 anteriores. 

Desproporção brutal: nenhum outro dirigente partidário português surge tantas vezes na pantalha. Uma dessas entrevistas - transmitida a 19 de Agosto, já em pré-campanha autárquica - durou duas horas e dois minutos. Algo inaudito: quanto mais ele "arrasa" os jornalistas, para gáudio da claque venturista, mais eles lhe dão palco. 

Mas não só os jornalistas: também a tribo comentadeira não passa sem Ventura. E promove-o até à náusea. Atingiu-se o cúmulo do ridículo há três dias, na noite de sábado, quando Ventura foi "entrevistado" por dois políticos travestidos de jornalistas: o conservador Francisco Rodrigues dos Santos, que em Janeiro de 2022 conduziu o CDS ao pior resultado eleitoral da sua história, e o socialista Pedro Costa (filho do actual presidente do Conselho Europeu), que em Abril de 2024 abandonou a presidência da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, muito antes do fim do mandato para que havia sido eleito. 

Ambos proporcionaram ao líder do Chega outro dos seus habituais momentos de show off - daqueles que aproveita para transformar a nossa vida pública numa telenovela mexicana em sessões contínuas.

 

Terão aqueles dois fracassados na política competência e aptidão para conduzir entrevistas num canal televisivo? Adquiriram carteira profissional de jornalista? E como reagirão os profissionais da informação da CNN Portugal perante esta insólita concorrência que os desconsidera de forma tão ostensiva?

Ignoro se já houve reacção da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, que há um ano emitiu sinal de vida ao investir contra Maria João Avillez - jornalista comprovada e consagrada, com mais de meio século de actividade profissional - chegando ao ponto de admitir uma participação ao Ministério Público contra ela por alegada "usurpação de funções".

Vou aguardar que a mesma CCPJ ouse agora acusar Chicão e Costa júnior de "usurpar funções" por entrevistarem candidatos a Belém em canal informativo de televisão. Mas esperarei sentado. Com a certeza antecipada de que não se atreverá a tanto. É mais cómodo fingir que nada disto alguma vez aconteceu.

Entrevistadores da treta, falsos jornalistas, espaços informativos tornados sessões de entretenimento. Qualquer indignação contra fake news, neste panorama, soa fatalmente a hipocrisia: ninguém poderá levá-la a sério.

60 comentários

Comentar post

Pág. 1/2