"Diz qualquer coisa de oposição"
Faz hoje um mês, previ aqui que Rui Rio seria uma das figuras em foco de Outubro a nível nacional. Pela necessidade de finalmente assumir uma candidatura à liderança ao PSD.
Passos Coelho facilitou-lhe a vida, saindo de cena após as humilhantes derrotas eleitorais que o partido sofreu em Lisboa e no Porto, aliás muito previsíveis.
Dizem-me que Rio já andava a preparar-se há mais de um ano para este momento, cuidando de tudo ao pormenor, como é do seu feitio meticuloso.
Teve azar: o dia mediático, que já andava dividido pelas primeiras informações públicas em torno do Orçamento do Estado para 2018 e pela réplica formal do Governo espanhol ao desafio separatista da Catalunha, acabou por ser totalmente absorvido pela acusação formal da Procuradoria-Geral da República ao ex-primeiro-ministro José Sócrates, que vai sentar-se no banco dos réus pela suspeita de ter cometido 31 crimes. Facto sem precedentes na história política e na história judicial do País.
Rio nunca poderia ter previsto isto. Mas podia e devia ter feito um discurso mais vibrante e mobilizador perante a galeria de apoiantes em Aveiro.
Escutei-o pela televisão. Iam já decorridos 15 minutos de discurso quando dei por mim a parafrasear aquela personagem de Nanni Moretti: "Diz qualquer coisa de oposição!"
Acabou por dizer, daí a momentos, nessa intervenção de 17 minutos. Com uma frase que sabia ser apropriada a títulos de jornal: "O PSD é um partido de poder, não é a muleta do poder."
Achei muito pouco para quem se candidata à liderança do maior partido da oposição ao Governo socialista. Nestas coisas, como ensinava o engenheiro Guterres, nunca há segunda oportunidade para uma primeira impressão.