Diferentes capas do mesmo livro
Não há fome que não dê em fartura. Durante longos anos, a obra de André Gide esteve ausente do mercado editorial português apesar de ser um escritor galardoado (em 1947) com o Prémio Nobel da Literatura. Sublinho: da Literatura - e não de Literatura, como agora é moda grafar-se copiando os brasileiros. Fuga sem sentido à norma, pois não dizemos Nobel de Economia nem Nobel de Paz.
De repente, as livrarias são inundadas por títulos de Gide, vários dos quais inéditos. Motivo: a obra deste autor, falecido em 1951, acaba de passar para o domínio público. Tal como tinha sucedido há meses com George Orwell. Editá-lo tornou-se mais fácil e muito mais barato.
Inverte-se a situação: antes havia escassez, agora há excesso.
Só o romance O Imoralista, publicado originalmente em 1902, acaba de gerar três versões quase simultâneas em Portugal. Reproduzo aqui as capas das editoras E-primatur, Cavalo de Ferro e Minotauro.
Há muito que sublinho a importância de uma boa capa para valorizar um livro. Lamentavelmente, é uma arte que parece condenada à extinção: hoje basta pesquisar-se num banco de imagens na internet e recolher uma fotografia - com frequência do próprio autor - para fazer de conta que existe capa. A ilustração deixou de ser regra: tornou-se excepção.
Uma verdadeira capa atrai, não afugenta. Capta a atenção por ser diferente, não banaliza nem vulgariza. Até porque, em boa medida, a arte pode - e deve - começar logo aí. Como instrumento de sedução.
Cada leitor que julgue por si, dizendo qual destas capas do mesmo livro prefere.