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Delito de Opinião

Cadernos de um enviado especial ao purgatório (17)

Luís Naves, 12.08.14

Visto a partir da segurança do extremo ocidental da Europa, o Médio Oriente parece uma zona de desastre e colapso. A tragédia em Gaza é quase inexplicável: os habitantes daquele território vivem como autênticos prisioneiros num campo de concentração; as poucas indústrias foram destruídas, não há água ou electricidade, a reconstrução será inútil, centenas de milhares perderam a casa ou ficaram traumatizados. Em cada novo espancamento, Gaza radicaliza-se um pouco mais. Aliás, a radicalização dos perdedores ajuda talvez a explicar a insanidade do Estado Islâmico do Iraque e Síria. Esta organização fez milhões de pessoas recuar um milénio, conquistou um território assinalável e combate todas as outras forças da região. O EIIS conseguiu a coisa espantosa de unir  americanos, iranianos, sauditas, curdos e ainda o regime sírio. A América, que está a perder o Iraque, alia-se ao Irão para combater estes radicais extremos, que matam ou expulsam todos os membros das outras comunidades religiosas. O grupo quer criar um califado e conquistou com rapidez fulgurante um espaço significativo, embora ainda sem ameaçar o fluxo do petróleo. Aliás, não adianta defiinir o EIIS como "grupo terrorista", pois este é já um embrião de Estado, capaz de se expandir por meios militares convencionais.

A América, no caso do Iraque, cometeu um erro tremendo em 2003, alterando o equilíbrio que existia entre as três potências regionais inimigas (Iraque, Irão e Arábia Saudita) que controlavam dois terços das reservas petrolíferas do planeta. Os problemas do Islão político vão ainda mais fundo: há uma guerra civil na Síria que já matou 200 mil pessoas, a Líbia encontra-se à beira da fragmentação total, o Iémen mergulha no caos, todo o Sara está em rebelião, os vencedores da revolução egípcia foram aprisionados e o descontentamento e a repressão alastram na Ásia Central, da Chechénia a Xinjiang. Estaremos a assistir ao estertor da própria civilização islâmica? É bem possível.

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