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Delito de Opinião

Cadernos de um enviado especial ao purgatório (14)

Luís Naves, 09.08.14

A arte deixou de ser importante na nossa vida, ela está ligada ao entretenimento, é decorativa e superficial.

A literatura morreu, pelo menos a parte exigente, pois a escrita de ficção está a tornar-se numa forma de reflexão sobre o imediato, mais próxima da crónica ou do jornalismo, que não podem mentir. Assim, ao perder universalidade, a literatura torna-se banal e servil. O escritor não pode prescindir da imagem pública, é um actor, e o romance não deve ser demasiado incómodo ou nem verá a luz do dia. Na escrita que sai das gavetas falta autenticidade e capacidade de resistir à passagem do tempo. Os leitores desistiram. Os estados de alma pós-modernos incluem anestesia geral e as pessoas já nem querem ler algo que perturbe a sua insónia, preferem traduções de livros inócuos.

O cinema é um exercício da indústria, como o fabrico de um automóvel, mas que recorre a capital de risco; complexo, sem dúvida, com exigências estéticas e técnicas, mas que sai de uma fábrica. Hollywood matou tudo o resto. A pintura é efémera e a música aproximou-se da complexidade, já suficientemente incompreensível para que possa em breve ser feita por computadores. Ninguém dará pela diferença.

A arte tem medo do risco, dispersa-se na vastidão dos pequenos eventos, na diversidade das experiências humanas e da linguagem, submete-se ao poder dos negócios, da moda e do falso exótico, reflectindo uma sociedade que declina para a irrelevância.

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