Cadernos de um enviado especial ao purgatório (11)
Com inteligência e simplicidade, o escritor espanhol Enrique Vila-Matas coloca neste texto um problema importante das redes sociais contemporâneas. Estas tendem a afastar o pensamento original e promovem a normalização da opinião publicada. Ali prevalece um comportamento de tribo, de ‘nós contra eles‘, onde qualquer diferença é hostilizada verbalmente. De facto, perde-se demasiado tempo a explicar o que nos parecia ser claro, a desmentir o que não se escreveu, a repetir ideias evidentes, a ser ignorado ou atacado por outros autores. O pior é que este espírito das redes sociais alastrou ao jornalismo dito de referência e dá trabalho remar contra a maré das opiniões pré-fabricadas e dos freios intelectuais. Em Portugal, tornou-se quase impossível dizer que a situação do País não é tão desesperada como a pintam. Nas redes sociais, essa afirmação implica insultos imediatos, leituras enviesadas e a reputação destruída. Muitos autores não estão para isso e desistem, pelo que se agrava a tendência para certa limitação à liberdade de expressão, que alguns parecem aceitar sem problemas.