Cadernos de um enviado especial ao purgatório (2)
Evito escrever sobre questões internacionais, mas não é falta de assunto, é perplexidade. As revoluções árabes falharam quase todas, com particular estrondo no Egipto, e nasceu um califado no Iraque a na Síria (imagine-se, um recuo de mil anos). A civilização ocidental entrou numa fase estranha, incapaz de controlar os excessos ou de reduzir um sistema de consumo que ameaça a estabilidade do próprio clima do planeta. Alguns Estados caem fora do ninho e condenam-se à extinção; há milhões de pessoas sem qualquer futuro visível. E esta exclusão também ocorre dentro dos países chamados ricos, onde as desigualdades podem destruir democracias construídas com labor e sacrifício. Muitos pobres ficarão no exterior das classes consideradas humanas e, assim condenadas à pobreza e à incultura, deixarão simplesmente de existir, ignoradas por meios de comunicação obcecados apenas pelo espectáculo. O capitalismo é insaciável. Cada um fecha-se nas suas razões: estamos a construir um mundo de condomínios privados que bombardeiam faixas de gaza