Diário semifictício de insignificâncias (17)
Olho para a banana. Comprei-a ontem e já está demasiado madura - mole, a pele de um amarelo denso, pintalgado de castanho.
É um fruto exasperante, a banana. Incomestível quando verde, abominável quando demasiado maduro, praticamente sem intervalo entre as duas condições. Um fruto com um período de comestibilidade absurdamente curto. Pode dar energia, ser fácil de digerir e ter carradas de potássio mas algo com um período de comestibilidade (fui confirmar; é uma palavra verdadeira) tão absurdamente curto nem deveria obter a classificação de comestível. A banana é pior do que um humano de há um par de séculos, obrigado a trabalhar e a casar aos doze, a procriar aos catorze, com os pés para a cova aos quarenta. Mas os humanos evoluíram - a um ritmo, aliás, que deixaria Darwin muito mais zonzo do que os balanços do Beagle alguma vez terão conseguido. Os cinquenta são os novos trinta (fico - iúpi! - com vinte e oito) e dentro em breve os setenta serão os novos cinquenta. Já as bananas permaneceram na mesma. (Recuso acreditar que há duzentos anos ainda fossem piores.)
Acho que defendo a manipulação genética no caso das bananas.