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Delito de Opinião

Diário de uma mãe

Joana Nave, 17.04.25

Não tenho conseguido escrever porque resolvi dar prioridade a outras coisas, como abrandar o ritmo, descansar, realizar as tarefas que tenho em mãos com atenção plena e dedicar mais tempo a cuidar do que me rodeia, quer o espaço, quer as pessoas, quer o que me define.

Cuidar é uma forma de amar e, por isso, o simples acto de cozinhar deve ser feito com toda a calma, para que a energia que passamos para os alimentos cozinhados possa fluir para quem desfruta depois desta refeição. A pressa com que vivemos os nossos dias não nos permite este tipo de cuidados, é simplificar ao máximo e não perder tempo com trivialidades. Tudo está certo, mas também é durante um almoço ou jantar partilhado que temos oportunidade de conversar com os outros, trocar ideias, resolver conflitos internos, que de outra forma não teríamos espaço para expressar. Ter tempo é muitas vezes construir o tempo para o diálogo e para a partilha.

Foi numa dessas conversas que o meu filho de 7 anos me confidenciou que não podia levar uma pulseira de plástico de um super-herói para a escola porque seria gozado pelos seus colegas. Fiquei vários dias a pensar neste assunto e em como estamos a construir uma sociedade às avessas, em que as crianças gozam umas com as outras por estas quererem ser crianças. O que é infantil é menor aos olhos de crianças que estão na idade da infância. Disseram-me que seriam os irmãos mais velhos a passar esta mensagem, mas sinceramente não acho que seja esse o factor principal, acho que nós pais temos pressa de vê-los crescer. Os pequenitos sugam-nas a energia e acresce o facto de actualmente sermos pais cada vez mais tarde, quando já temos menos paciência, e por isso vamos transmitindo a ideia de que eles têm de ser crescidos, responsáveis, que devem deixar de ser bebés, em suma, que devem deixar de ser crianças. Queremos enfiá-los à força no molde do bom comportamento, queremos que sejam um exemplo de tranquilidade, generosidade e sapiência, quando eles estão na idade de experimentar os limites, pular, rebolar, encher os sapatos de lama pegajosa, cair, coleccionar arranhões e nódoas negras, ter alguns conflitos que devemos ajudar a mediar, rir e chorar sem motivo aparente, porque as emoções de uma criança ainda estão a ser definidas, eles estão a aprender a controlar-se e gritam tanto ou mais quanto nos ouvem gritar, porque são absorventes e espelhos do que lhes transmitimos diariamente.

No passado, a educação resolvia-se muitas vezes pelo meio da força. Hoje somos mais pedagogos, mas temos dificuldade em definir barreiras, limites e em permitir que o tempo faça a sua habilidade de os ajudar a crescer, usamos a televisão e os meios audiovisuais em troca de silêncio, temos tantos meios ao nosso dispor que nos perdemos no caminho e só queremos que o tempo passe e que eles queiram ir connosco dar um passeio sossegado, passar uma tarde a ler, ver um filme, porque o faz de conta e a gritaria põem-nos num ataque de nervos.

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