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Delito de Opinião

Diário de uma mãe

Joana Nave, 10.03.25

Li algures o testemunho de uma mulher em que uma das razões para não ter filhos era manter um estilo de vida minimalista. Entenda-se por minimalista viver com pouca tralha, andar às costas com pouca bagagem, ter um estilo de vida simples. Os filhos, por outro lado, são sinónimo de confusão, muitos acessórios, muitos bens essenciais, muitos brinquedos, muito de tudo e mais alguma coisa. Antes destes nascerem, os pais têm muitas vezes de aumentar a casa onde vivem, arranjar mais mobília, comprar roupas, produtos de higiene e outros para bebé, comprar um número infinito de artigos de puericultura e, por vezes, até comprar um carro maior. Eu lembro-me que comecei a aprender sobre o tal minimalismo ainda antes de ser mãe e, por isso, já tinha reduzido imenso os meus bens pessoais quando comecei a encher a casa com as coisas de bebé. O quarto extra foi totalmente remodelado, libertou-se espaço no resto das divisões e adaptou-se o que já tínhamos. Ainda assim, comprámos coisas que se revelaram inúteis e o destralhar passou a ser uma actividade mais ou menos semestral, com a mudança das estações.

Quando os filhos crescem a situação piora, porque as crianças estão sempre a criar coisas novas, como as centenas de desenhos que ficam espalhados por todo o lado, mais os pequenos projectos que vão de casa para a escola e voltam no final do ano, mais tudo o que fazem por lá, mais os objectos diários que vêm guardados nos bolsos, nas mochilas, e que se vão acumulando pelo quarto, até que um olhar crítico faça uma escolha criteriosa do que fica e do que vai. Depois, há ainda que ter em consideração a energia inesgotável de uma criança, que consegue virar do avesso em segundos o que nos levou um dia inteiro a pôr em ordem.

É deixar fluir, manter uma mente organizada no caos e aprender que não conseguimos controlar tudo. Para mim, este foi e continua a ser um verdadeiro desafio, uma aprendizagem diária, em que tento manter a calma, respirar fundo, contar até mil, antes de deixar que o impulso de querer ter o meu espaço em ordem irrompa com um pulsar nervoso e perca as estribeiras. Não é fácil não termos tempo para nós da forma que queremos, termos de fazer disso uma negociação e até um esforço, ou valorizar sempre os momentos de partilha que temos com estes seres indefesos e dependentes de nós. Vale a pena, claro que vale a pena, porque só nos conhecemos verdadeiramente quando somos levados ao limite e quando aprendemos a dar importância ao que é realmente importante. É um processo contínuo de aprendizagem, de conhecimento, de pequenas vitórias que nos vão transformando e que fazem crescer esta relação pais e filhos. Quem sabe um dia possamos abraçar em conjunto este projecto do minimalismo...

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