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Delito de Opinião

Diário de uma mãe

Joana Nave, 01.02.25

Depois de sermos mães há duas certezas que passam a fazer parte da nossa vida, nunca mais estamos sozinhas e nunca mais temos descanso. São eventualmente duas questões abordadas de forma fundamentalista, mas é preciso contrariar a tendência para que não sejam a nossa forma de vida. Os filhos só são dependentes de nós até certo ponto e há mesmo um horizonte temporal mais ou menos definido para que tomem as rédeas das suas próprias vidas. Por outro lado, a questão do descanso também está muito relacionada com a rede de apoio que temos.

Para mim, há ainda a questão da responsabilidade, eu sou responsável por eles, tenho o dever de estar presente quando necessitam e tenho o dever de mascarar o meu cansaço, para que as exigências fundamentais das vidas deles possam ser cumpridas, no que respeita principalmente à fase da dependência. Quando crescerem será outra conversa, mas lá chegaremos.

Sendo realista, sinto saudades dos dias em que chegava a casa com um desgaste físico e emocional decorrente dos dias de trabalho e podia simplesmente deitar-me no sofá a vegetar, até recuperar forças para ir fazer algo útil, como dormir e acordar para um dia melhor. Os dias extenuantes ainda existem, e são ainda mais penosos com o cansaço acumulado da vida familiar, mas não há pausas, é chegar a casa e garantir que todas as rotinas são cumpridas, os banhos, os trabalhos de casa, o jantar, e a preparação do dia seguinte. Sou muito apologista de delegar, dar ferramentas e promover a autonomia, e por isso vou ensinando e desafiando a colaboração entre todos, mas claro está que não é tarefa fácil, e quando finalmente dou o meu dia por terminado, penso muitas vezes no que poderia ter feito de forma diferente para que as últimas horas do dia não tivessem parecido um campo de batalha.

Um dos meus trunfos é claramente a organização, ainda que tenha espaço para melhorar, mas há sempre que definir o equilíbrio entre a obsessão pelo zelo e a descontracção da não perfeição, e aqui reside o drama dos meus dias, como manter uma vida calma e organizada sem extremismos, sem me sentir culpada porque a casa onde vou entrar ao final do dia não está limpa e arrumada. Exigimos demasiado de nós próprios e dos outros, porque a sociedade também é exigente, somos inundados diariamente com ideais de perfeição, vidas imaculadas e auspiciosas, carreiras bem sucedidas, filhos geniais e, neste cenário o comum, o normal, parece não se encaixar nesta corrente e deixa-nos ainda mais frustrados e ansiosos.

Eu só queria não sentir esta exigência da perfeição, aceitar os percalços como desafios a ultrapassar, mas sem peso, apenas como evolução permanente e melhoria constante numa vida serena e de aceitação.

Pode parecer que a vida de uma mãe é afinal um novelo em desalinho, que não pode ser usado para tecer porque está cheio de nós, e é muito isso que se revela na maior parte dos dias, e não há que escondê-lo porque já há demasiadas pessoas a testemunhar as alegrias da maternidade, sem permitir que a verdade seja do conhecimento geral. As mães são uma espécie de super-heroínas, dotadas de energia infinita e reservas inesgotáveis, mas sofrem a dor dessa entrega incondicional e devem estar cientes do papel que vão assumir para o resto das suas vidas.

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