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Delito de Opinião

Dez razões para não votar em Pedro Marques nas Europeias

Rui Rocha, 23.05.19

1.º A LIGAÇÃO AO PS DE SÓCRATES: Pedro Marques foi Secretário de Estado da Segurança Social dos governos de Sócrates. Como António Costa e outros que este recuperou para o executivo actual, Marques não viu nem indícios de conduta criminosa, nem sinais de que o caminho trilhado levaria à bancarrota. Num país decente, nenhum partido ousaria propor uma solução governativa com a galeria de caras velhas e comprometidas com o passado de que Pedro Marques faz parte. Da mesma forma, nenhum partido decente proporia para cabeça de lista um candidato com tal passado. É ocioso referir a conclusão que se tiraria sobre a natureza do PS se partíssemos desta premissa para construir um silogismo elementar.

2.º PEDRO SILVA PEREIRA: valem aqui todas as considerações do ponto anterior, sublinhadas por ainda mais veemente indignação. Não é por acaso que todos os candidatos da lista do PS em lugares elegíveis estiveram já em acções de campanha. Todavia, não há registo de um momento de participação de Pedro Silva Pereira numa arruada, numa reunião, num almoço. Nada. Compreende-se. Tal como o PS, eu próprio teria vergonha de pedir a alguém para votar numa lista em que Pedro Silva Pereira aparecesse em 3º lugar. Ao contrário do PS, eu teria igualmente vergonha de o incluir numa lista.

3.º A MANIPULAÇÃO DA INFORMAÇÃO COMO FORMA CORRENTE DE FAZER POLÍTICA: enquanto Marques foi Ministro do Planeamento e Infraestruturas, o Ministério utilizou uma forma de comunicação absolutamente desvinculada da realidade. Ficaram célebres as inaugurações não de obras, mas de concursos de lançamento de obras. Sistematicamente, o Ministério de Marques levantou poeira não para assentar fundações, mas para intrujar a opinião pública. Marques foi recentemente acusado de algum grau de cumplicidade com as operações de intoxicação protagonizadas, a soldo de Sócrates, pelo blogue Câmara Corporativa. Coincidência ou não, os métodos utilizados pelo Ministério de Marques foram os mesmos.

4.º AS CATIVAÇÕES E O INVESTIMENTO PÚBLICO: como nenhum outro, e contando com a permissividade dos parceiros da Geringonça, o governo de António Costa desrespeitou o Parlamento e as regras da democracia ao fazer do Orçamento de Estado um documento vazio e sem qualquer valor político, completamente subalternizado às cativações decididas pelo Ministro das Finanças. Pedro Marques, enquanto Ministro das Infraestruturas, foi o ponta de lança complacente desta abordagem, sendo o principal responsável pelos níveis absolutamente ridículos de investimento público registados desde que o governo entrou em funções.

5.º A DEGRADAÇÃO DOS SERVIÇOS ESSENCIAIS: como consequência directa da situação descrita no ponto anterior, serviços fundamentais como o transporte ficaram absolutamente condicionados com a conivência de Pedro Marques. Os utentes da CP, apenas para falar dos mais sacrificados, foram brindados nos últimos anos com um calvário de atrasos, maus serviços e supressões. Não é por acaso que Pedro Marques realizou acções de campanha em composições da Fertagus, mas nunca pôs os pés num comboio da CP.

6.º O DESPREZO PELO PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE POLÍTICA: a tragédia dos incêndios, Tancos ou Borba como expoentes de uma visão em que o poder político desaparece de cena deixando os cidadãos entregues à sua própria sorte. No caso de Borba, Pedro Marques chegou a declarar que existia uma estrada alternativa. Não era de esperar outra coisa. Se virmos bem, a responsabilidade foi dos que morreram que podiam ter escolhido outra via e insistiram em utilizar a que ruiu.

7.º O NEPOTISMO: a lista de candidatos às Europeias, apesar da tentativa de passar entre os pingos da chuva nesta matéria, não foge à regra da endogamia que tem sido amplamente documentada no PS. Maria Manuel Leitão Marques, a nº 2 da lista, é casada com Vital Moreira. Margarida Marques, a nº 4, é casada com Porfírio Silva, uma das eminências pardacentas do partido. Não se trata de questionar individualmente nenhuma destas pessoas. Trata-se de constatar que também aqui há casos de família que se somam às dezenas de outros que vão desde os gabinetes do governo até à Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa.

8.º A CALÚNIA COMO INSTRUMENTO DE CAMPANHA: num tweet publicado há umas semanas, Marques acusou Paulo Rangel, em quem não votarei, de “não fazer o trabalho no Parlamento Europeu”. Concretamente, afirmava que o que se “conhece do seu trabalho é um relatório legislativo e um relatório não legislativo” e que Paulo Rangel estaria “num brilhante lugar 597 entre os mais de 760 (sic) deputados”. Existe realmente um ranking que avalia os Eurodeputados pela sua actividade no PE. O score global é calculado a partir de um algoritmo que tem em conta diversos itens (questões escritas, moções, relatórios, etc.). Ora, Rangel está, de facto, na posição 597 no item “relatórios”. Todavia, o score global de Rangel, que engloba toda a actividade relevante desenvolvida, coloca-o na posição 150. Rangel fica assim bem à frente, por exemplo, de Pedro Silva Pereira que não foi além do lugar 298. Mais, se consideramos o score global da totalidade dos Eurodeputados portugueses, Rangel está em 6º, à frente do melhor socialista (Maria João Rodrigues) que ocupa o 8º lugar. Marques sabia perfeitamente que tudo isto é assim, mas não se coibiu quer de publicar a informação de forma enviesada, quer de repeti-la posteriormente.

9.º A CHANTAGEM DE COSTA: independentemente da maior ou menor hipocrisia das posições de PSD e CDS a propósito da contagem do tempo de serviço dos professores, o certo é que António Costa quis promover uma crise artificial, baseada numa vitimização despropositada, visando condicionar a opinião pública e tendo também como objectivo as eleições Europeias. Votar em Pedro Marques é validar uma visão em que a golpada e a chico-espertice são um modo de relação admissível com os eleitores.

10.º OS OUTROS CANDIDATOS: nestas eleições não faltam alternativas políticas e, em geral, os candidatos apresentados pelos outros partidos são, ao contrário do que aconteceu com o PS, merecedores de crédito junto do respectivo eleitorado natural. João Ferreira, Marisa Matias, Paulo Rangel, Ricardo Arroja, Rui Tavares ou Paulo Sande constituem escolhas consistentes e viáveis. O próprio Nuno Melo, passando pouco tempo em trabalho parlamentar, tem a vantagem de não estragar muito. Neste contexto, o eleitor, colocado perante a possibilidade de votar na lista do PS, deve perguntar a si mesmo se merece o enxovalho de contribuir para eleger Pedro Marques e Pedro Silva Pereira.

 

* publicado na edição de Maio do Dia 15.

2 comentários

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    J. L. 23.05.2019

    " a sigla PS não corresponderá a Partido Sarjeta?"
    Senhor jpg: cá está num bom argumento, não acha? Faço-me entender? É assim que se acaba quando mal se começa.
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