Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 01.06.17

imagem[1].jpg

 

Livro um: A Máquina do Tempo, de H. G. Wells

Tradução de Tânia Ganho

Edição Antígona, 2016

156 páginas

 

Há livros que nunca passam de moda: esta é uma das melhores definições de um clássico. Seja qual for o género literário. Neste caso, a ficção científica, de que Herbert George Wells (1866-1946) foi pioneiro e mentor.

O escritor britânico - quatro vezes nomeado para o Nobel - transporta-nos nestas páginas ao sonho máximo do ser humano: dominar o tempo, transformando-o num precioso aliado em vez do implacável adversário que nos vai consumindo células e filamentos nervosos. Dando largas à ideia de que “o tempo é uma quarta dimensão e que o presente normal é uma secção tridimensional de um universo quadridimensional”, como acentuou num prefácio à reedição de 1931.

É literatura, sim. Mas é também, de algum modo, filosofia. Com a marca do socialismo utópico que serviu de bandeira a boa parte da ficção de Wells, inicialmente seduzida pelo darwinismo social e cada vez menos idealista à medida que testemunhava uma atmosfera de iniludível declínio da civilização ocidental, irreversível aos olhos do autor que nos legou A Guerra dos Mundos, O Homem Invísivel e A Ilha do Doutor Moreau.

A Máquina do Tempo surgiu inicialmente em 1895, em vésperas da alvorada de um novo século supostamente destinado a inundar a humanidade de luz.

É neste contexto que decorre a insólita digressão do anónimo Viajante no Tempo rumo a uma sociedade do longínquo futuro, dissociada de realidades tão básicas aos nossos olhos como a família ou a habitação individual. Comunismo implantado enfim no ano 802.601? Assim parecia. “Aquelas pessoas do futuro eram todas iguais”, relata o viajante quando a máquina que o transportou o devolve ao convívio com os seus contemporâneos.

Sonho ou pesadelo? O facto é que as aparências iludem – em qualquer época e em qualquer lugar. Já neste romance de um Wells ainda jovem as páginas finais contrariam o optimismo inicial. Como se delas emanasse um presságio do mundo que havia de dissolver-se na lama das trincheiras, ao som dos tambores de guerra.

2 comentários

Comentar post