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Delito de Opinião

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 10.06.16

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Livro sete: O Bosque, de João Miguel Fernandes Jorge

Edição Relógio d’Água, 2015

207 páginas

 

Várias leituras (A Brasileira de Prazins, de Camilo, A Velha Casa, de Régio), algumas viagens (Londres, Atenas), breves encontros, divagações sobre pintura ou botânica, incursões pela superfície do quotidiano, apontamentos memorialísticos envoltos em sucinta nostalgia, reflexões amargas em torno das encruzilhadas políticas num país sob vigilância financeira internacional.

Tudo isto se encontra neste diário sereno mas não resignado, pontuado de ocasionais assomos de indignação, tendo por persistente pano de fundo o doméstico bosque a que alude o título – aqui entendido não apenas no sentido literal mas também como refúgio metafórico do escritor, avesso às ilusórias luzes da fama que não ambiciona nem nunca buscou.

João Miguel Fernandes Jorge é poeta mesmo quando escreve prosa. Esta escrita diarística, elegante e luminosa, bem o comprova. Há nela uma voz em toada musical que prefere o sussurro ao grito mas nunca é indiferente à dor do mundo. Como deixa bem expresso no dia de Natal de 2012: “Neste final de ano sinto que nos levam para o fogo da pobreza e que nos golpeiam, em roubo, o sangue do rosto singular de cada um de nós, ao eliminarem-nos a acção, a responsabilidade, a intenção, a liberdade, a emoção diária humana. Fica-lhes a usura que sofremos; e nós, no todo do país, caminhamos para um país sem rosto – um objecto sem sujeito. Um perigoso objecto sem sujeito.”

É um diário que tem início a 21 de Dezembro de 2012 e termina exactamente um ano depois – de algum modo como começa, perpassado de inquieta melancolia: “As palavras entendi-as sempre como um favor. Por isso gosto tão pouco de falar. Espécie de fruto da terra, respiramo-las. Empresto-me a elas para que rompam na escrita o meu silêncio. Melhor seria mesmo dizer, para que irrompam do seu silêncio.”

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