Dez livros para comprar na Feira
Livro cinco: Telex de Cuba, de Rachel Kushner
Edição Relógio d’Água, 2015
352 páginas
Nada na vida é comparável a uma infância feliz. É disto que nos fala este singular romance de Rachel Kushner, centrado num punhado de jovens norte-americanos criados na província do Oriente, na Cuba da década de 50, sob o manto ditatorial de Fulgencio Batista. Naquele “paraíso de fracassados”, como alguns pedantes lhe chamavam, já outra ditadura espreitava, protagonizada por barbudos de charuto e caqui, prontos a descer os contrafortes da Sierra Maestra.
Indiferentes às reviravoltas da política, esses adolescentes não imaginavam que viviam os melhores anos das suas vidas naquele aldeamento da United Fruit, próspero império de cana-de-açúcar construído à custa de muito suor de importação, com haitianos forçados a trabalhar ali de sol a sol. A Cuba que os jovens expatriados conheciam proporcionava-lhes uma irrepetível aura de aventura: devolvidos com os pais à nação de origem após o triunfo do castrismo, nenhum deles reviveria esses anos dourados. Esperava-os um futuro cinzento e rotineiro – a vidinha encastoada num subúrbio de aluguer, longe do esplendor tropical que lhes marcou a memória.
Kushner, nascida no Oregon em 1968, tem o dom de surpreender o leitor: antes dela, nunca a literatura nos havia fornecido um retrato tão minucioso da comunidade estrangeira ancorada na Cuba pré-revolucionária. Guiados por ela, viajamos no espaço e no tempo, convivendo com aqueles que lá estavam apenas por empréstimo mas que de algum modo também chamavam sua àquela terra e dela se despediram para sempre numa trepidante madrugada de Ano Novo.
Telex de Cuba, originalmente publicado em 2008, é um dos melhores romances norte-americanos da última década. Servido por uma competente tradução de Jorge Pereirinha Pires que vale a pena enaltecer.