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Delito de Opinião

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 05.06.16

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Livro dois: Nada, de Carmen Laforet

Edição Cavalo de Ferro, 2014

249 páginas

 

Se quisermos buscar um Holden Caulfield em versão feminina e europeia, em demanda de um rumo e uma identidade que jamais encontrará, vêmo-la numa adolescente de província que desembarca em Barcelona no rescaldo imediato da guerra civil espanhola, com cinzas e escombros ainda evidentes por todo o lado. Andrea, inadaptada no tempo e no espaço, atravessa como um espectro aqueles que talvez sejam os melhores anos da sua vida sem ter a menor noção desse facto. A casa da avó, onde se acolhe, é um prolongamento da insana vida colectiva daquela época, sufocante e claustrofóbica.

Carmen Laforet (1921-2004) entrou triunfalmente no mundo das letras com este romance vigoroso e desencantado, publicado em 1945 na inóspita Espanha franquista, aqui latente em entrelinhas onde não faltam alusões à guerra. Um livro redigido num estilo deliberadamente frenético e sincopado pela jovem que produziu esta obra-prima da literatura espanhola do século XX quando mal saíra da adolescência.

“É sobretudo no domínio do amor e do sexo que as personagens de Nada parecem viver fora da realidade, numa misteriosa galáxia na qual os desejos não existem ou foram reprimidos ou canalizados para actividades de compensação. Se, em quase todos os aspectos da vida, o mundo do romance delata uma moral pacata até ao inumano, que aliena homens e mulheres e os empobrece, no aspecto sexual essa distorção alcança proporções inverosímeis”, observa com lucidez Mario Vargas Llosa no prefácio desta excelente versão portuguesa que veio colmatar uma evidente lacuna do nosso mercado editorial. Tradução competente de Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu.

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