Dez livros para comprar na Feira
Livro cinco: O Pacto Nazi-Soviético, de Manuel S. Fonseca
Edição Guerra & Paz, 2025
143 páginas
Durante 22 meses, entre Agosto de 1939 e Junho de 1941, a Alemanha nazi e a Rússia comunista uniram-se em aliança. Política, económica, militar. Contra as «decadentes» democracias liberais do continente europeu, que esmagaram em obscena parceria naquele terço inicial da II Guerra Mundial – a mais mortífera de todos os tempos, com 27 milhões de mortos.
Peça fundamental neste conluio foi o tratado de não-agressão assinado na capital soviética pelos chefes das diplomacias de Moscovo e Berlim, sob o olhar sorridente de Estaline, em 23 de Agosto de 1939. Serviu de detonador para a invasão, violação e mutilação da Polónia: alemães na metade ocidental, russos na parcela restante. As primeiras vítimas da guerra tombaram lá.
«O pacto foi um desastre moral, militar e humano», assinala Manuel S. Fonseca, ensaísta e editor, nesta obra tornada ainda mais oportuna desde que Vladimir Putin invadiu em força a Ucrânia, há mais de três anos, numa tentativa - felizmente falhada - de mimetizar a Blitzkrieg conduzida pelos nazis contra diversos países europeus em 1939-1940: Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Dinamarca, Noruega, França. Após a anexação da Áustria, a conquista da Checoslováquia e a captura da Polónia. Como ensinou Marx, a História repete-se, resvalando da tragédia à farsa.
O que nos traz O Pacto Nazi-Soviético? O que mais importa: factos. Alguns já esquecidos, outros deliberadamente ignorados. Por serem incómodos. Por desmentirem certas narrativas pseudo-heróicas.
Falam as evidências: «Foi o acordo com Estaline que garantiu a Hitler as costas quentes a leste e providenciou até às tropas do III Reich os meios – petróleo, borracha e outras matérias-primas – que punham em movimento o exército nazi. Foi Estaline quem alimentou o monstro.»
Esta obra fala-nos dos antecedentes do pacto e das negociações que o tornaram possível. Transcreve o seu articulado na íntegra. E as cartas que Hitler e Estaline trocaram antes de se rubricar o documento. Inclui o protocolo suplementar secreto, que atribuía à União Soviética “direito de pernada” sobre diversos Estados: Finlândia, Estónia, Letónia e Lituânia, além de parte da Polónia e da Roménia. Outros protocolos, subscritos pelas diplomacias dos dois países a 28 de Setembro daquele ano, demarcaram zonas de influência. Tudo isto é lembrado aqui.
A 22 de Setembro de 1939, uma parada conjunta em Brest-Litovsk (Bielorrússia) selou a infame aliança comuno-nazi. Na presença do general alemão Heinz Guderian e do general soviético Semyon Krivoshein. A gratidão de Hitler levou-o a oferecer à Rússia 200 milhões de marcos e vários barcos de guerra, incluindo um cruzador.
Em Janeiro de 1941, a parceria reforçou-se com a assinatura do Acordo Germano-Soviético Comercial e de Fronteiras em que o Kremlin reclamava a posse da Bulgária, do Irão e até do Iraque.
Quando a Polónia caiu, Estaline congratulou-se junto de Georgi Dimitrov, cabecilha da Internacional Comunista: «A destruição deste Estado, nas presentes circunstâncias, significa um Estado burguês fascista a menos!» Quando a propaganda oficial de Moscovo repetia sem escrúpulos nem pudor a palavra paz.
Fascismo e comunismo irmanados então, tal como hoje – basta ver que forças políticas votam a favor de Putin no Parlamento Europeu. Há coisas que não mudam.
Sugestão 5 de 2016:
Telex de Cuba, de Rachel Kushner (Relógio d' Água)
Sugestão 5 de 2017:
Coração de Cão, de Mikhail Bulgákov (Alêtheia)
Sugestão 5 de 2018:
Octaedro, de Julio Cortázar (Cavalo de Ferro)
Sugestão 5 de 2019:
Júlio de Melo Fogaça, de Adelino Cunha (Desassossego)
Sugestão 5 de 2020:
Por Amor à Língua, de Manuel Monteiro (Objectiva)
Sugestão 5 de 2021:
Gramática Para Todos, de Marco Neves (Guerra & Paz)
Sugestão 5 de 2022:
As Praias de Portugal, de Ramalho Ortigão (Quetzal)
Sugestão 5 de 2023:
Como Perder uma Eleição, de Luís Paixão Martins (Zigurate)
Sugestão 5 de 2024:
A Porta, de Magda Szabó (Cavalo de Ferro)