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Delito de Opinião

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 12.06.24

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Livro sete: Inglaterra: Uma Elegia, de Roger Scruton

Edição Guerra & Paz, 2024

260 páginas

 

Este é um livro tocado de nostalgia. De saudável nostalgia. Roger Scruton (1944-2020), um dos mais brilhantes pensadores britânicos dos últimos decénios, fala do seu país natal sempre no passado. A Inglaterra, outrora Grã-Bretanha – não o Reino Unido, designação que lhe parecia espúria.

Ele não se envergonhava de ser o que era: um genuíno conservador, pessimista antropológico, avesso a subscrever as consabidas noções de «progresso». A nação a que presta tributo nestas páginas encerra algo de mítico, de intangível. Terá existido realmente, largas décadas atrás. Ou talvez nem isso. A elegia pela pátria pode confundir-se com um lamento pela juventude perdida.

Tal incógnita não retira interesse a este ensaio, publicado originalmente em 2001. O título resume o espírito da obra: estamos perante uma vibrante declaração de amor à Inglaterra, que Scruton pretendia ver como reino independente, sem elos directos com Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales. Mantendo a monarquia constitucional como pedra angular do Estado, a religião anglicana como vínculo com as gerações precedentes e preservando a inigualável paisagem inglesa, povoada de pastos, quintas de família e aldeias hoje abandonadas ou desfiguradas sem remissão. Esta é a mágoa maior do filósofo doutorado pela Universidade de Cambridge e autor de Como Ser um Conservador e O Ocidente e o Resto, entre outros títulos que lhe valeram uma legião de admiradores em vários países. Também entre nós.

«A pátria não é apenas um lugar; é também o que lá acontece. Um lugar torna-se uma pátria em virtude dos hábitos que o domesticam», observa com acerto enquanto discorre sobre o carácter inglês e até sobre «o amor dos ingleses pelo absurdo». Único povo do mundo «capaz de aceitar simultaneamente a ideia de que o sagrado é uma invenção humana e a ideia de que as coisas são realmente sagradas».

Scruton fala de política, da sociedade, das leis, do idioma de Shakespeare, de autores da sua predilecção (Dickens, Conrad, Eliot, Orwell, Larkin), de múltiplos aspectos da vida quotidiana, pontuada pelo individualismo e pelo cavalheirismo. Sempre no passado, convicto do inexorável desaparecimento do torrão que lhe serviu de berço. Ressalvando, porém, que «civilizações mortas têm muito para dizer a pessoas vivas».

Nada parece toldá-lo tanto como a perda do verde cenário da sua infância. Em linguagem poética que mais lhe acentua a melancolia: «O amor de um nativo pela paisagem da sua terra é bastante diferente do turista pelas vistas. A paisagem do nosso país de origem, tanto a natural como a urbana, é iluminada pelo carácter nacional, tal como o rosto é iluminado pela alma.»

Se alguém nunca sentiu o mesmo pela exígua parcela do planeta onde nasceu e cresceu, tornou-se imune às paixões humanas. Ou nem soube que existiam.

 

Sugestão 7 de 2016:

O Bosque, de João Miguel Fernandes Jorge (Relógio d'Água)

Sugestão 7 de 2017:

1933 Foi um Mau Ano, de John Fante (Alfaguara)

Sugestão 7 de 2018:

O Visitante da Noite & Outros Contos, de B. Traven (Antígona)

Sugestão 7 de 2019:

Um Futuro de Fé, do Papa Francisco e Dominique Wolton (Planeta)

Sugestão 7 de 2020:

Acordo Ortográfico - Um Beco Com Saída, de Nuno Pacheco (Gradiva)

Sugestão 7 de 2021:

O Silêncio, de Don DeLillo (Relógio d'Água)

Sugestão 7 de 2022:

Diários (1950-1962), de Sylvia Plath (Relógio d'Água)

Sugestão 7 de 2023:

«O Mais Sacana Possível», de António Araújo (Tinta da China)

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