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Delito de Opinião

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 11.06.24

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Livro seis: Canção de Rolando, de autor desconhecido

Edição E-primatur, 2024

213 páginas

 

É, desde já, um dos acontecimentos editoriais do ano em Portugal - na sequência do lançamento de outros títulos da E-primatur, vocacionada para a divulgação de clássicos. Poucos serão tão antigos como esta Canção de Rolando, surgida em meados do século XI e concebida por penas incógnitas para divulgação através de jograis ou trovadores em festas, romarias e justas medievais nos burgos franceses. Daí transitaram para todo o espaço europeu.

São 4002 versos octossilábicos sem rima mas semeados de aliterações que narram a epopeia de Carlos Magno (742-812) enquanto conquistador de amplas extensões de território na Península Ibérica como rei dos francos e dos lombardos numa saga que o levou a unificar grande parte da Europa Ocidental e Central. Culminaria o seu percurso bélico e político já entronizado como Imperador dos Romanos - o primeiro em três séculos - pelo Papa Leão III, em 800.

O principal marco desta narrativa em verso é a mítica batalha de Roncesvales, que opôs a retaguarda do exército de Carlos Magno, comandada pelo conde Rolando, seu sobrinho, a um vasto destacamento de forças «pagãs», assim mencionadas no texto, aludindo a sarracenos em confusa amálgama com devotos do deus Apolo auxiliados por traidores francos.

Roncesvales, localidade dos Pirenéus navarros, é hoje o primeiro marco em território espanhol para quem vem de França nas peregrinações do Caminho de Santiago. Os feitos que conduziram à morte trágica de Rolando foram-se perpetuando por gerações até ser fixado o texto definitivo deste épico, em anglo-normando, no chamado Manuscrito de Oxford, identificado em 1835. Esta é considerada a fonte mais credível entre as nove que chegaram a circular em letra impressa.

Daqui surge finalmente a Canção de Rolando em versão integral no nosso idioma, graças ao meritório trabalho dos tradutores, Amélia Vieira e Pedro Bernardo, com base no francês moderno. A obra é apresentada de forma clara, sucinta e sugestiva numa nota editorial que explica ao leitor o contexto do poema, nomeadamente a sua íntima associação ao espírito das Cruzadas, então no auge. 

As cidades e reinos concretos (Salamanca, Saragoça, Bretanha, Normandia, Dinamarca, Etiópia) mesclam-se nesta épica com lugares que derivam da pura fantasia. Numa narrativa trepidante, digna do melhor filme de aventuras - Sam Peckinpah e Quentin Tarantino gostariam de filmar muitas das cenas aqui descritas.

Rigor histórico? É o que menos importa. O Rolando de carne e osso caiu no campo de batalha, mas sobrevive através dos séculos como herói literário. Quando a lenda se torna facto, imprime-se a lenda.

 

Sugestão 6 de 2016:

Axilas e Outras Histórias Indecorosas, de Rubem Fonseca (Sextante)

Sugestão 6 de 2017:

O Tesouro, de Selma Lagerlöf (Cavalo de Ferro)

Sugestão 6 de 2018:

Quem Disser o Contrário é Porque Tem Razão, de Mário de Carvalho (Porto Editora)

Sugestão 6 de 2019:

Como Ser um Conservador, de Roger Scruton (Guerra & Paz)

Sugestão 6 de 2020:

Fósforos e Metal Sobre Imitação de Ser Humanode Filipa Leal (Assírio & Alvim)

Sugestão 6 de 2021:

Uma Longa Viagem com Vasco Pulido Valente, de João Céu e Silva (Contraponto)

Sugestão 6 de 2022:

O Barulho das Coisas ao Cair, de Juan Gabriel Vásquez (Alfaguara)

Sugestão 6 de 2023:

Professor Unrat, de Henrich Mann (E-primatur)

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