Dez livros para comprar na Feira
Livro dois: Kokoro, de Natsume Soseki
Edição Presença, 2023
302 páginas
É o mestre dos mestres da literatura nipónica. Influenciou os outros todos - incluindo dois galardoados com o Nobel, Yasunari Kawabata e Kenzaburo Oe, além do mais icónico, Yukio Mishima. Sem esquecer Haruki Murakami, que confessa sem rodeios: «É o meu escritor japonês preferido.»
Ele, Natsume Soseki (1867-1916). Traduzido em mais de 30 idiomas - incluindo o árabe, o esloveno e agora o português. Cronista de um Japão em viragem histórica, na era do imperador Meiji, que modernizou o país, removendo os últimos vestígios do sistema feudal. Foi quando o arquipélago do Sol Nascente se abriu ao mundo, emergindo como uma das potências económicas do planeta. Mas o novo cenário não removia antigos dilemas existenciais, nomeadamente o confronto entre o dever e o prazer.
Obra-prima de Soseki que muitos consideram o primeiro grande romance moderno do Japão, Kokoro (significa "Coração") é uma parábola sobre a condição humana, impregnada do fatalismo oriental - também sintoma da decadência nipónica, coincidente com a morte de Meiji em 1912, dois anos antes da primeira edição do livro. Disto nos fala a enigmática relação entre um estudante universitário de Tóquio, de que nunca saberemos o nome, e um homem já idoso, a quem chamam Mestre. «Condenado a duvidar dos homens», em contemplação de uma sociedade com «demasiada liberdade, demasiada independência, demasiado egoísmo.» Foi há mais de um século, mas podia ter sido agora. Foi no extremo oriental, mas podia ter sido aqui.
«Solitário e triste», assim se assume o Meste. Saberemos porquê no longo capítulo que encerra o romance, redigido em formato epistolar. Surpreendente e amargurada meditação sobre a amizade, o amor e a morte.
Linguagem depurada, reduzida ao essencial, muito valorizada pela tradução portuguesa (a partir da edição francesa) de Helder Guégués, autor do blogue Linguagista. Romance enraizado na sua época, funciona como meditação de alcance universal. Resistindo ao teste do tempo, a mais implacável de todas as provas.
Sugestão 2 de 2016:
Nada, de Carmen Laforet (Cavalo de Ferro)
Sugestão 2 de 2017:
Singularidades, de A. M. Pires Cabral (Cotovia)
Sugestão 2 de 2018:
Deuses de Barro, de Agustina Bessa-Luís (Relógio d'Água)
Sugestão 2 de 2019:
A Língua Resgatada, de Elias Canetti (Cavalo de Ferro)
Sugestão 2 de 2020:
Três Retratos - Salazar, Cunhal, Soares, de António Barreto (Relógio d'Água)
Sugestão 2 de 2021:
Presos por um Fio, de Nuno Gonçalo Poças (Casa das Letras)
Sugestão 2 de 2022:
Primeira Memória, de Ana María Matute (Narrativa)
Sugestão 2 de 2023:
O Plantador de Malata, de Joseph Conrad (Sistema Solar)