Dez livros para comprar na Feira
Livro um: Canções Para o Incêndio, de Juan Gabriel Vásquez
Edição Alfaguara, 2023
231 páginas
O leitor português já conhecia Juan Gabriel Vásquez como talentoso romancista, digno herdeiro de Gabriel García Márquez, a quem presta homenagem implícita na sua mais célebre obra: O Barulho das Coisas ao Cair (2011) - excelente a começar no título, prosa que parece verso.
A mesma chancela editorial revela-nos outra faceta do escritor colombiano, desta vez como contista. Num volume surgido originalmente em 2018. São nove histórias que podem ser lidas como parcelas do mesmo coro polifónico, à semelhança do que fez James Joyce em Gente de Dublin, ponto cimeiro deste género literário.
No conto, como no romance, Vásquez alude à violência inscrita num quotidiano de aparente normalidade – e à culpa que que tantas vezes lhe está associada. Em lugares diversos, nas situações mais inesperadas, provocadas pela intolerância e pelo fanatismo. Compondo um perturbante retrato da Colômbia em diferentes fases do seu conturbado processo histórico.
Ele «conhece a arte do conto como a palma das suas mãos», na justa apreciação do Le Magazine Littéraire. Aqui com inesquecíveis retratos de gente à beira do abismo, consumida pelo desejo de vingança, convulsionada pelo remorso ou perdida nos labirintos da traição. O Dom Gilberto de “Mulher à Beira-Rio” - «um desses homens que falam sem olhar para ninguém e sem invocar o nome de ninguém». A Mercedes de “As Rãs” – mulher de um veterano de guerra perseguido por um segredo talvez inconfessável. A enigmática Aurelia de León, nascida sob o signo do infortúnio e desaparecida quase sem deixar rasto. O Antonio Wolf de “O Duplo”, pai que perdeu o filho e não se conforma pela inexistência de uma palavra capaz de defender esta espécie de orfandade.
Todas estas histórias funcionam como frestas em que vislumbramos o espectáculo da vida, nos seus fragmentos de luz e no seu cortejo de sombras. Com atenção minuciosa às minúcias do enredo e a cada subtileza da linguagem – aspectos que traçam a fronteira entre a escrita de ficção como mero produto de oficina e a literatura enquanto arte maior, inconfundível.
Sugestão 1 de 2016:
O Islão e o Ocidente, de Jaime Nogueira Pinto (D.Quixote)
Sugestão 1 de 2017:
A Máquina do Tempo, de H. G. Wells (Antígona)
Sugestão 1 de 2018:
Delito de Opinião, de vários autores (Bookbuilders)
Sugestão 1 de 2019:
O Fundo da Gaveta, de Vasco Pulido Valente (D. Quixote)
Sugestão de 2020:
As Sílabas de Amália, de Manuel Alegre (D. Quixote)
Sugestão de 2021:
No Devagar Depressa dos Tempos, de Marcello Duarte Mathias (D. Quixote)
Sugestão de 2022:
O Caminho Fica Longe, de Vergílio Ferreira (Quetzal)
Sugestão de 2023:
O Olhar Mais Azul, de Toni Morrison (Presença)