Dez livros para comprar na Feira
Livro cinco: Como Perder uma Eleição, de Luís Paixão Martins
Edição Zigurate, 2023
193 páginas
Este livro devia ser lido por quase todos os políticos portugueses: só teriam a ganhar com isso. As excepções são José Sócrates, Cavaco Silva e António Costa, pois já sabem do que trata: o autor concebeu o plano de comunicação e forneceu alguma logística que lhes permitiu vencer nas urnas com maioria absoluta. Sócrates nas legislativas de 2005, Cavaco nas presidenciais de 2006, Costa há pouco mais de um ano - inaugurando, por sinal, o pior período da sua governação.
O título, obviamente, é irónico. A obra desenvolve-se neste registo de branda ironia. Evidencia o que está certo ao enunciar, por contraste, o que é errado: «Fazer uma campanha dirigida aos fãs»; «Cantar vitória nas sondagens»; «Divergir da bolha mediática»; «Projectar o debate como um combate de boxe»; «Agendar episódios e incidentes»; «Convocar activos tóxicos»; «Querer agradar a todos»; «Ter a ambição de mudar o mundo em dois meses».
Luís Paixão Martins aproveita para atribuir créditos à empresa que fundou: tem fama (e certamente proveito) de ser a mais influente agência de comunicação do País. Enquanto ajusta contas de caminho. Com jornalistas, colunistas, bitaiteiros vários, barómetros armados em sondagens que acertam em tudo menos no alvo. E também com alguns políticos, como Ana Gomes e Francisco Louçã. «Preciso de inimigos novos. Entrei na fase de achar graça aos antigos», confessa a dado passo este tarimbado consultor. Farpas em estilo cáustico que apimentam a escrita sem lhe roubar elegância.
Apontamentos ditados pela experiência não faltam nestas páginas. Eis um dos mais argutos: «Se um político for de plástico, a culpa não é do aconselhamento. Não há nenhum consultor no mundo que dê autenticidade a um político de plástico.»
Como Perder uma Eleição é útil não apenas a políticos em início de carreira, mas até a quem ambiciona lugar cativo como comentador em estúdios de rádio ou televisão. Não basta ter algum jeito ou parecer bom. É preciso muito trabalho, férrea determinação, alguma sorte. E saber do que se fala. Palrar só por palrar é próprio de papagaios.
Sugestão 5 de 2016:
Telex de Cuba, de Rachel Kushner (Relógio d' Água)
Sugestão 5 de 2017:
Coração de Cão, de Mikhail Bulgákov (Alêtheia)
Sugestão 5 de 2018:
Octaedro, de Julio Cortázar (Cavalo de Ferro)
Sugestão 5 de 2019:
Júlio de Melo Fogaça, de Adelino Cunha (Desassossego)
Sugestão 5 de 2020:
Por Amor à Língua, de Manuel Monteiro (Objectiva)
Sugestão 5 de 2021:
Gramática Para Todos, de Marco Neves (Guerra & Paz)
Sugestão 5 de 2022:
As Praias de Portugal, de Ramalho Ortigão (Quetzal)