Dez livros para comprar na Feira
Livro dois: O Plantador de Malata, de Joseph Conrad
Edição Sistema Solar, 2023
123 páginas
Novela nebulosa, percorrida por uma aura de mistério. Como tantas vezes acontece com as obras de Joseph Conrad (1857-1924), um dos maiores estilistas da língua inglesa - que não era o idioma materno deste polaco nascido na Ucrânia na condição de súbdito do império russo e reconhecido como cidadão britânico só em 1886, no auge da sua carreira na marinha mercante que o levou a navegar em diversos mares do globo. Essas viagens por alguns dos lugares mais remotos do planeta, que foi fazendo até aos 35 anos, tornaram-se matéria-prima essencial da sua ficção literária.
O Plantador de Malata - publicado inicialmente em 1915, num volume de quatro contos e novelas sob o título Within the Tides [Dentro das Marés] - confirma Conrad como hábil criador de atmosferas esotéricas, capaz de transformar vastos espaços físicos em labirintos opressivos, tornados espelhos da natureza humana. Do rio cheio de sinistros augúrios n' O Coração das Trevas à exasperante calmaria de Linha de Sombra, passando pelo vento demencial que ameaça corpos e espíritos em Tufão.
Aqui somos conduzidos a uma pequena ilha plantada nos confins do Oriente, na fase culminante do império colonial britânico, povoado de gente desenraizada - uns em busca das emoções fortes sugeridas por aquelas paragens exóticas, outros para se reecontrarem ou perderem de vez. Parece ser o caso do enigmático protagonista, Geoffrey Renouard, proprietário da plantação a que o título alude - coleccionador de segredos que se apaixona pela mulher errada no momento mais inoportuno. Logo ele, que «já tinha vivido o suficiente para reflectir e compreender que os actos, as perspectivas e até as ideias de um homem podem estar muito abaixo do seu carácter».
Pessimista, depressivo, descrente na miragem do "progresso" que iludiu tantos contemporâneos naquele final do século XIX, Conrad legou-nos uma literatura que resiste à prova do tempo. Mesmo em obras aparentemente menores. Como em qualquer outro dos seus livros, prevalece aqui a linguagem elegante e requintada, neste caso com uma vantagem suplementar: a irrepreensível tradução de Aníbal Fernandes, que também assina o prefácio.
Sugestão 2 de 2016:
Nada, de Carmen Laforet (Cavalo de Ferro)
Sugestão 2 de 2017:
Singularidades, de A. M. Pires Cabral (Cotovia)
Sugestão 2 de 2018:
Deuses de Barro, de Agustina Bessa-Luís (Relógio d' Água)
Sugestão 2 de 2019:
A Língua Resgatada, de Elias Canetti (Cavalo de Ferro)
Sugestão 2 de 2020:
Três Retratos - Salazar, Cunhal, Soares, de António Barreto (Relógio d'Água)
Sugestão 2 de 2021:
Presos por um Fio, de Nuno Gonçalo Poças (Casa das Letras)
Sugestão 2 de 2022:
Primeira Memória, de Ana María Matute (Narrativa)