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Delito de Opinião

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 26.05.23

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Livro um: O Olhar Mais Azul, de Toni Morrison

Edição Presença, 2023

187 páginas

 

Foi o livro de estreia de Toni Morrison, quando estava longe de imaginar-se galardoada com o Prémio Nobel da Literatura. Surgiu em 1970, culminando uma década crucial na conquista de direitos cívicos da população negra norte-americana, ainda sujeita às mais abjectas humilhações - sobretudo na "cintura democrata" dos Estados sulistas. Ali as cicatrizes da guerra civil ocorrida cem anos antes permaneciam por cicatrizar.

Viajamos com a escritora no tempo e no espaço, ao Ohio rural do início dos anos 40. Com um grupo de crianças no centro do enredo. Meninas como a Scout Finch de Não Matem a Cotovia, de Harper Lee, ou a Caddy de O Som e a Fúria, de William Faulkner. Livros que também nos falam dos dédalos da "América profunda", onde a discriminação racial era uma chaga à flor da pele.

Este é um romance avassalador sobre a perda da inocência, que acontecia sempre demasiado cedo naquelas comunidades marcadas pelo estigma da pobreza e dos preconceitos associados à cor da pele. O segregacionismo impregnava o quotidiano, a memória esclavagista mal se havia dissipado. Sem excluir erupções racistas entre os próprios negros. 

Eis o mundo duro e dolorido dos adultos observado por olhos ainda desprovidos de maldade. São de três crianças negras: as irmãs Claudia e Frieda, além da colega de escola Pecola - a mais feia da turma, a mais feia que todos conheciam. Menina em risco de sofrer um destino trágico, de algum modo inscrito nos genes e no meio social em que crescera. 

Ela sonhava despertar um dia com olhos azuis, iguais aos das estrelas de Hollywood que tinham as caras estampadas nas capas das revistas. «Depois da educação que recebeu no cinema, nunca mais conseguiu olhar um rosto sem lhe atribuir uma categoria na escala da beleza absoluta, escala essa que absorveu na sua totalidade do grande ecrã. (...) Ali, o imperfeito tornava-se perfeito, o cego recuperava a visão e o manco e o coxo largavam as muletas. Ali, a morte estava morta e as pessoas faziam cada gesto numa nuvem de música.» (Tradução de Tânia Ganho.)

Sonho que jamais se concretizará. Mas perpetuado afinal nas páginas vibrantes e pungentes d' O Olhar Mais Azul

 

Sugestão 1 de 2016:

O Islão e o Ocidente, de Jaime Nogueira Pinto (D.Quixote)

Sugestão 1 de 2017:

A Máquina do Tempo, de H. G. Wells (Antígona)

Sugestão 1 de 2018:

Delito de Opinião, de vários autores (Bookbuilders)

Sugestão 1 de 2019:

O Fundo da Gaveta, de Vasco Pulido Valente (D. Quixote)

Sugestão de 2020:

As Sílabas de Amália, de Manuel Alegre (D. Quixote)

Sugestão de 2021:

No Devagar Depressa dos Tempos, de Marcello Duarte Mathias (D. Quixote)

Sugestão de 2022:

O Caminho Fica Longe, de Vergílio Ferreira (Quetzal)

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