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Delito de Opinião

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 11.09.22

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Livro dez: De Quase Nada a Quase Rei, de Pedro Sena-Lino

Edição Contraponto, 2020

623 páginas

 

Fala-se muito do Marquês de Pombal, mas grande parte dos portugueses conhece-o mal. Personagem cheia de luzes e sombras, com vocação para mandar, dispôs de poder quase absoluto durante um quarto de século. E foi decisivo em questões diversas, começando pela reconstrução de Lisboa após o devastador terramoto de 1755. Mas também na consolidação do nosso domínio no Brasil, demarcando fronteiras com a coroa espanhola, no desenvolvimento da instrução pública, na promoção da nossa indústria de lanifícios e na criação da primeira região vinícola do mundo, valorizando o Vinho do Porto como emblema de Portugal.

Viveu longos anos fora do País, como nosso representante diplomático em Londres e Viena, o que lhe rasgou horizontes e lhe consolidou a noção de que o poder só é útil se for exercido sem estados de alma nem contemplações filosóficas. Tinha a noção de que esta nação periférica só galgaria etapas rumo ao progresso com o impulso de um governo forte, exercido em nome da autoridade régia mas orquestrado por ele, enquanto punha e depunha figuras secundárias.

É natural que alguém tão marcante tenha fascinado os nossos escritores, que lhe dedicaram biografias. Aconteceu, por exemplo, com Camilo Castelo Branco e Agustina Bessa-Luís. Mas o mais bem-sucedido neste domínio é um contemporâneo que se vem notabilizando sobretudo pela escrita poética: Pedro Sena-Lino assina aqui um minucioso retrato do Marquês, sem lhe enaltecer em excesso as virtudes nem lhe esconder os defeitos. Numa escrita elegante e bem fundamentada em documentos da época, incluindo cartas do biografado, que gostava de escrever para a posteridade, consciente de que viria a figurar em destaque nos manuais de História.

De Quase Nada a Quase Rei: excelente título capaz de resumir o sinuoso percurso de Sebastão José de Carvalho e Melo (1699-1782), que à mercê de caprichos do destino e da sua vontade férrea se tornou um dos dirigentes mais afamados na Europa do seu tempo. Acima dele, no reino lusitano, só estava o monarca, D. José, que lhe confiou plenos poderes. O cenário mudou em 1777, com a ascensão ao trono da sua filha, D. Maria I: Pombal caiu em desgraça, foi desterrado para sempre de Lisboa e por pouco não teve a mesma triste sorte de vários opositores políticos que mandou executar com requintes de malvadez. Viria a morrer longe da corte, abandonado pela legião de aduladores que o rodeava nos tempos áureos.

Mas o seu nome, de facto, passou à História. Ele cuidou disso nos documentos epistolares que nos legou. «É a partir desta imagem de Sebastião José por si construída como defesa no final de vida, e perpetuada em parte pela I República, que outras figuras políticas portuguesas se vão construir - como António de Oliveira Salazar», assinala Pedro Sena-Lino. Numa frase que talvez prenuncie outra biografia da sua lavra.

 

 

Sugestão 10 de 2016:

Bairro Ocidental, de Manuel Alegre (D. Quixote)

Sugestão 10 de 2017:

Santos e Milagres, de Alexandre Borges (Casa das Letras)

Sugestão 10 de 2018:

Sonhos Públicos, de Joana Amaral Dias (D. Quixote)

Sugestão 10 de 2020:

A Minha Intenção, de Czeslaw Milosz

Sugestão 10 de 2021:

O Retorno, de Dulce Maria Cardoso

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