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Delito de Opinião

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 10.09.22

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Livro nove: Carta à Geração que Vai Mudar Tudo, de Raphaël Glucksmann

Edição Guerra & Paz, 2022

159 páginas

 

Há livros notáveis pela qualidade literária e pelo suplemento de sonho que transmitem aos leitores. Outros destacam-se por nos fazerem reflectir em nome de imperativos cívicos inadiáveis. É o caso deste, redigido em forma epistolar pelo eurodeputado francês Raphaël Glucksmann, incentivando os jovens a mudar o mundo. Não com chavões ideológicos, nem com frases que «cantam mais do que falam», como dizia Paul Valéry, mas com acções concretas. 

Nesta Carta à Geração que Vai Mudar o Mundo (edição original francesa de 2021, boa tradução portuguesa de André Morgado para a excelente colecção Livros Vermelhos, da Guerra & Paz) Glucksmann, cineasta que passou pelo jornalismo, menciona vários marcos do seu percurso no activismo social como incentivo aos destinatários da obra. Antes e depois de fundar o partido Lugar Público (2018) e ser eleito para o Parlamento Europeu (2019) em representação desta pequena força política integrada na bancada dos socialistas e sociais-democratas em Bruxelas. 

Filho de peixe sabe nadar. Hoje com 42 anos, o eurodeputado honra o exemplo do pai, André Glucksmann (1937-2015), um dos "novos filósofos" que no final da década de 70 romperam com o marxismo-leninismo, à época ainda dominante nos circuitos académicos e mediáticos em França.

Agora os combates são outros, nestas páginas enumerados sob o signo da urgência. Contra o totalitarismo chinês, que aprisiona mais de um milhão de uigures em campos de concentração. Contra a globalização do comércio que desloca as cadeias de produção da Europa para o Oriente, aproveitando-se do trabalho escravo ao serviço de multinacionais do consumo. Contra as ideologias que sustêm o terrorismo. Contra a economia predadora que vai devastando o planeta. Contra a impotência da Europa, bem visível quando irrompeu a pandemia: descobrimos que éramos incapazes de produzir produtos tão elementares como máscaras ou paracetamol, abdicando da soberania industrial a favor da China e da soberania militar a favor dos EUA. «Sem defesa própria, não há autonomia, logo não há verdadeiramente cidade.»

Ontem André, hoje Raphaël: a militância é quase um imperativo genético. «Vi o meu pai consagrar os últimos vinte anos da sua vida em defesa do povo checheno, massacrado pelo Exército russo», lembra o eurodeputado.

«Os jovens podem mudar tudo. Podem desatar a correia que os prende, podem carregar no travão, podem tomar o volante. Os jovens podem.» Palavras deste intelectual que se tornou político para tornar possíveis as mudanças em que acredita. Contra os «falsos profetas» sempre prontos a jurar que nada há a fazer pois tudo está inscrito nas estrelas. Ele parte do princípio oposto: «Nada está escrito. Nunca.»

Os nossos políticos deviam publicar livros como este. Mas quantos estariam dispostos a tal maçada? E quantos saberiam fazê-lo?

Sugestão 9 de 2016:

Entrevistas da Paris Review (Tinta da China)

Sugestão 9 de 2017:

Ao Largo da Vida, de Rainer Maria Rilke (Ítaca)

Sugestão 9 de 2018:

Só Acontece aos Outros, de Maria Antónia Palla (Sibila)

Sugestão 9 de 2019:

La Llamada de la Tribu, de Mario Vargas Llosa (Alfaguara)

Sugestão 9 de 2020:

Estocolmo, de Sérgio Godinho (Quetzal)

Sugestão 9 de 2021:

Woke - Um Guia para a Justiça Social, de Titania McGrath (Guerra & Paz)

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