Dez livros para comprar na Feira
Livro sete: O Silêncio, de Don DeLillo
Edição Relógio d'Água, 2020
89 páginas
O nosso planeta, dominado pela tecnologia, é sacudido por um sobressalto: as redes energéticas que marcam o quotidiano entram em colapso. De repente, as pessoas sentem-se como se estivessem em guerra. Contra um inimigo insidioso, invisível, enigmático. Paira um pressentimento de civilização à beira da derrocada.
Escrito num estilo espartano, com apenas cinco personagens e algum excesso de concisão, O Silêncio faz-nos reflectir sobre os frágeis mecanismos da vida contemporânea, assentes em dispositivos que controlam até o mais ínfimo dos nossos gestos e perante os quais nos curvamos em obediência servil.
É novela de antecipação, sim. Ambientada num futuro muito próximo (2022), imagina Nova Iorque – a capital do mundo – mergulhada num imenso apagão que conduz ao regresso dos dias primordiais dos «paus e pedras» a que alude a célebre frase de Einstein, não por acaso colocada no pórtico desta obra com gente de olhos fixos em ecrãs vazios. Equivalendo à mais negra escuridão.
Publicado em 2020 por Don DeLillo, um dos decanos das letras norte-americanas, O Silêncio «capta os medos crescentes da nossa era», como observou o Washington Post, funcionando em complemento do seu O Homem em Queda (2007), um dos melhores romances sobre os traumas do 11 de Setembro nos EUA. Este mais breve livro de ficção – com boa tradução portuguesa de Paulo Faria – pode ser lido como parábola em torno do coronavírus, mas foi escrito antes, com assombroso talento profético. «Ainda fresco na memória de todos, o vírus, a pandemia, as filas nos terminais nos aeroportos, as máscaras cirúrgicas, as ruas desertas das cidades.»
Também como sinal de que vivemos imersos num mundo onde se multiplicam os viciados digitais, envoltos em códigos de comunicação alheios em grau crescente à genuína natureza humana.
A tal ponto que a pergunta se impõe: «Ao que parece, todos os ecrãs se apagaram, em toda a parte. O que nos resta para ver, ouvir, sentir?» Escuta-se um arrepiante silêncio como resposta.
Sugestão 7 de 2016:
O Bosque, de João Miguel Fernandes Jorge (Relógio d'Água)
Sugestão 7 de 2017:
1933 Foi um Mau Ano, de John Fante (Alfaguara)
Sugestão 7 de 2018:
O Visitante da Noite & Outros Contos, de B. Traven (Antígona)
Sugestão 7 de 2019:
Um Futuro de Fé, do Papa Francisco e Dominique Wolton (Planeta)
Sugestão 7 de 2020:
Acordo Ortográfico - Um Beco Com Saída, de Nuno Pacheco (Gradiva)