Dez livros para comprar na Feira
Livro cinco: Gramática Para Todos, de Marco Neves
Edição Guerra & Paz, 2019
143 páginas
O desconhecimento galopante da gramática portuguesa é notório. Mesmo utentes do idioma enquanto ferramenta profissional - incluindo professores e jornalistas - claudicam nesta matéria. Ignorando regras, confundindo norma com excepção, exibindo ignorância travestida de erudição.
A obra máxima de referência do género, que muito me tem servido ao longo de anos de pesquisas a propósito dos desafios que a escrita me suscita, é a Nova Gramática do Português Contemporâneo (1984), de Celso Cunha e Lindley Cintra. Livro que já devia ter sido declarado património nacional. Ou transnacional, atendendo ao facto de o português ser língua oficial em dez países e territórios, nos cinco continentes.
Sem pretensão académica mas com vontade assumida de ser útil, esta breve Gramática Para Todos está redigida num estilo escorreito e cumpre na íntegra o objectivo a que se propõe: revelar ou recordar regras que reforçam a nossa ligação à língua-mãe. Missão meritória numa época invadida por modismos aberrantes, muitos dos quais pronunciados nessa nova espécie de crioulo que é o portinglês, de óbvia importação americana. Em que o idioma de Eça e Pessoa mais parece uma frustre caricatura de si próprio, repleto de erros lexicais, sintácticos e ortográficos. Começando por peças jornalísticas.
Marco Neves, professor da Universidade Nova com ampla experiência também como tradutor e revisor de textos, sabe ensinar em cada página que vai escrevendo. Sem se colocar num pedestal, como se estivesse a dialogar com o leitor. Lembra o essencial das normas e fundamenta-as com clareza. Fornecendo exemplos práticos. Neste seu jeito informal também especifica como se deve escrever, justificando cada caso. A diferença entre solarengo e soalheiro, entre à-vontade e à vontade. Se é mais correcto fazer ou «desfazer» a barba. Convicto de que importa «recriar a nossa voz através da palavra escrita», de preferência sem erros.
Interveio, não «interviu». Rubrica, não «rúbrica». Com certeza, não «concerteza». O nosso idioma merece ser bem tratado. Devemos-lhe isso.
Sugestão 5 de 2016:
Telex de Cuba, de Rachel Kushner (Relógio d' Água)
Sugestão 5 de 2017:
Coração de Cão, de Mikhail Bulgákov (Alêtheia)
Sugestão 5 de 2018:
Octaedro, de Julio Cortázar (Cavalo de Ferro)
Sugestão 5 de 2019:
Júlio de Melo Fogaça, de Adelino Cunha (Desassossego)
Sugestão 5 de 2020:
Por Amor à Língua, de Manuel Monteiro (Objectiva)