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Delito de Opinião

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 27.08.21

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Livro quatro: Uma História da ETA, de Diogo Noivo

Edição E-primatur, 2020

398 páginas

 

Durante meio século, a ETA aterrorizou Espanha. A pretexto da luta pela independência das três províncias do País Basco, esta organização separatista declarou guerra ao Estado espanhol no final da década de 60. Rodeava-se de alguma aura romântica: em Madrid vigorava a ditadura de Franco. Mas o franquismo agonizou e morreu sem que a ETA guardasse as armas. Pelo contrário: mais de 90% dos seus crimes foram cometidos durante o regime democrático, que deu plena autonomia à região basca – incluindo o reconhecimento da língua própria. Ao invés do que sucedeu nas três províncias bascas em França, submetidas ao poder central em Paris sem gerar sobressaltos nacionalistas: todos os gatilhos estavam apontados para Espanha. No ano de maior terror, 1980, foram assassinadas 92 pessoas. Uma a cada quatro dias.

Diogo Noivo – analista de risco político, também autor do DELITO – investigou a fundo a questão basca, tornando-se num dos maiores especialistas portugueses do tema. O resultado encontra-se nesta obra, a mais minuciosa até hoje entre nós. Examina as raízes do movimento, assentes na crença da superioridade basca sobre os restantes povos da Península. Inventaria as cumplicidades da ETA em território português, que «não foram episódicas nem casuísticas». E descreve o cortejo de crimes cometidos pelo terrorismo etarra: 855 vítimas mortais (incluindo 579 assassínios no próprio País Basco); 2533 feridos em 3500 atentados; 15.649 pessoas ameaçadas de morte; um número indeterminado de habitantes movidos para longe da região. Pelo «medo de levar um tiro, o medo de perder amigos», como lembra o filósofo Fernando Savater, basco de San Sebastián. Também ele forçado a partir.

Página encerrada? Nunca se diga nunca. Os herdeiros do braço político da ETA, hoje dissolvida enquanto guerrilha urbana, estão bem vivos. Sentam-se no parlamento regional em Vitória e até no Congresso dos Deputados em Madrid. Enquanto «cerca de 300 homicídios da responsabilidade da ETA continuam sem autores materiais identificados», como assinala Diogo Noivo. Demasiadas famílias sofrem ainda a dor do luto.

 

Sugestão 4 de 2016:

Páginas de Melancolia e Contentamento, de António Sousa Homem (Bertrand)

Sugestão 4 de 2017:

Os Filipes, de António Borges Coelho (Caminho)

Sugestão 4 de 2018:

Não Respire, de Pedro Rolo Duarte (Manuscrito)

Sugestão 4 de 2019:

Dois Países, um Sistema, de Rui Ramos e outros (D. Quixote)

Sugestão 4 de 2020:

Que Nós Estamos Aqui, de João Tordo (Fundação Francisco Manuel dos Santos)

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