Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 03.09.20

9789897025549_1589818009[1].jpg

 

Livro oito: A Ideologia Afrocentrista à Conquista da História, de François-Xavier Fauvelle

Tradução de Ivan Figueiras

Edição Guerra & Paz, 2020

140 páginas

 

Este livro não evita a polémica. Pelo contrário: procura-a. Tem como alvo as teses afrocentristas, em expansão no meio universitário europeu por importação dos EUA, que deixam de conceber a história como uma disciplina social e humana abrangente para a confinar em redutos tribais cada vez mais fragmentados.

O autor tem a vantagem de conhecer bem o tema. Doutorado em História pela Sorbonne e especialista em arqueologia, François-Xavier Fauvelle é professor do College de France, com uma cátedra dedicada à História de África. Considera o afrocentrismo uma corrente ideológica alicerçada no ressentimento. E lavra assim o seu protesto: «Nas transformações identitárias actuais, em que as identidades nacionais se vêem forçadas a ceder um lugar às várias identidades comunitárias ou particularistas, a memória foi posta em leilão.»

A militância afrocentrista contesta a tradição europeia de apontar o Mediterrâneo como berço dos mais relevantes acontecimentos históricos, considerando que tudo quanto de significativo ocorreu no mundo teve origem no continente africano – linguagem, cultura, religiões, civilização. Sócrates pode ter sido negro, Jesus e Buda podem ter sido negros, nada desmente que Cleópatra fosse negra. E do possível logo se passa ao provável. «São ideias de combate» que consumam «uma vingança sobre o Ocidente». Apropriando-se do conceito de raça em proveito próprio. Daqui emerge «uma história romântica e perigosa, em que o espírito de uma nação se confunde com os seus genes». E tudo gira em função do tom da pele. A América foi descoberta por negros muito antes de Cristóvão Colombo, o cristianismo é uma religião de origem afro-egípcia. «Deus é negro», proclamam as franjas mais radicais.

Fauvelle contesta sobretudo a contaminação da academia por estas correntes que abdicam do carácter universal da sabedoria: «Diz-me a tua cor, e eu dir-te-ei o que deves pensar: para os brancos, o “pensamento ocidental”; para os negros, o afrocentrismo.»

Dicotomias deste género, assentes no mais rudimentar maniqueísmo, deram mau resultado noutros tempos e noutras circunstâncias. A história tem tendência a repetir-se quando a memória se relativiza. E torna-se até perigosa ao vermos historiadores colocar mitos no altar dos factos.

 

 

Sugestão 8 de 2016:

Todos os Fogos o Fogo, de Julio Cortázar (Cavalo de Ferro)

Sugestão 8 de 2017:

Prantos, Amores e Outros Desvarios, de Teolinda Gersão (Porto Editora)

Sugestão 8 de 2018:

Quem Meteu a Mão na Caixa, de Helena Garrido (Contraponto)

Sugestão 8 de 2019:

Portugal Contemporâneo, de Oliveira Martins (Bookbuilders)

14 comentários

Comentar post