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Delito de Opinião

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 29.08.20

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Livro três: ABC da Tradução, de Marco Neves

Edição Guerra & Paz, 2020

106 páginas

 

Há muitas ideias feitas sobre a tradução – quase todas profundamente erradas. Não falta quem acredite ser tarefa ao alcance de qualquer pessoa versada num idioma estrangeiro, munida da primeira ferramenta digital que lhe apareça sob a designação de dicionário. E há até quem julgue tratar-se de ofício condenado à extinção face à galopante progressão desse esperanto dos nossos dias chamado inglês.

Marco Neves – tradutor, revisor, professor de Prática da Tradução na Universidade Nova de Lisboa – escreveu este livro para desfazer tais equívocos. Ao contrário do que muitos supõem, nunca a tradução foi tão procurada. Para os mais diversos efeitos: legislação, investimento empresarial, consumo, lazer. «Todos usamos traduções todos os dias (talvez mesmo todas as horas).»

Com linguagem escorreita e acessível, o autor desmonta outros mitos: o de que existem palavras ou expressões intraduzíveis (incluindo a nossa saudade); o de que traduzir é substituir palavras de uma língua para outra, quando o que se exige é «recriar frases e textos»; o de que legendar um filme se faz num ápice (pelo contrário, «demora muito mais do que a duração do próprio filme»).

É útil sabermos estas coisas. Para darmos valor a uma actividade profissional quase sempre invisível, exercida na solidão e muitas vezes no anonimato, mesmo tendo sido praticada por nomes ilustres. Como Eça, que traduziu As Minas de Salomão, de H. Rider Haggard, ou Blaise Cendrars, que popularizou em França - numa tradução ainda hoje elogiada - A Selva, de Ferreira de Castro.

Vale o esforço? Claro que sim. A nossa vida seria impensável sem estes «operários das palavras» que traduzem «livros, séries, documentários, notificações, manuais, artigos científicos, programas de computador, aplicações de telemóvel, sistemas de GPS, mensagens encontradas pela Polícia Judiciária». Fica a sugestão: visitemos os bastidores desta actividade intelectual que verte para outro idioma tudo quanto possamos imaginar – de um manual de instruções a um relatório secreto, de um romance policial a um catálogo de máquinas de café. Cientes de que «a tradução é mesmo a arte da aproximação entre culturas». E desengane-se quem pensar que é fácil. Porque não é.

 

Sugestão 3 de 2016:

Política, de David Runciman (Objectiva)

Sugestão 3 de 2017:

A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade (Companhia das Letras)

Sugestão 3 de 2018:

Cebola Crua com Sal e Broa, de Miguel Sousa Tavares (Clube do Autor)

Sugestão 3 de 2019:

Lá Fora, de Pedro Mexia (Tinta da China)

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