Dez livros para comprar na Feira
Livro um: As Sílabas de Amália, de Manuel Alegre
Edição D. Quixote, 2020
63 páginas
Em ano de centenário do nascimento de Amália Rodrigues, Manuel Alegre presta tributo à inigualável cantora que levou as três sílabas de Portugal aos quatro cantos do mundo. Reunindo aqui os seus poemas que Amália tão bem cantou na década de 70 e outros que ele foi compondo em tempos posteriores, com a intérprete de Fado Português como fonte explícita de inspiração.
É um «livrinho» - assim lhe chama o autor no prefácio. Em número de páginas, na verdade, sabe a pouco: apetecia-nos mais. Mas pressinto que Alegre usa o termo sobretudo na acepção carinhosa de um pai incapaz de enjeitar um novo filho, mesmo quando já tem a descendência mais que assegurada. E é também um diminutivo que rima com os «versinhos» mencionados por Amália, aludindo à sua própria condição de letrista - iniciada com Estranha Forma de Vida, tão marcante no reportório e no imaginário amaliano.
«A sua maneira de cantar dava outra dimensão a cada verso e fazia da própria língua uma música inconfundível. Ela sabia dizer cada palavra e, quando cantava, nem uma sílaba se perdia», assinala Alegre no sucinto mas emocionado texto introdutório deste opúsculo dividido em quatro partes: "As Sílabas de Amália" (com duas homenagens em forma de poema, uma das quais inédita); "Quatro Poemas Cantados por Amália com Música de Alain Oulman" (incluindo o popular Meu Amor é Marinheiro, que viria a ser gravado em 1997 por Maria Bethânia, e uma versão alternativa da Trova do Vento que Passa, antes popularizada na voz de Adriano Correia de Oliveira); "Teoria do Fado" (com dois inéditos); e "Eu Queria Dar-te um Fado" (que inclui o poema Lisboa Ainda, escrito já durante o surto pandémico, quando o País se encontrava em estado de emergência).
Lê-se num ápice. Mas o mais importante é o que fica depois, a vibrar-nos na memória e a interpelar-nos as raízes. Um sentimento que Alegre tão bem traduz nestes versos (de Teoria do Fado): «É um íntimo tremor obscuro impulso / que devagar aperta na garganta / pulsa no coração bate no pulso / e é por isso que dói quando se canta.»
Sugestão 1 de 2016:
O Islão e o Ocidente, de Jaime Nogueira Pinto (D.Quixote)
Sugestão 1 de 2017:
A Máquina do Tempo, de H. G. Wells (Antígona)
Sugestão 1 de 2018:
Delito de Opinião, de vários autores (Bookbuilders)
Sugestão 1 de 2019:
O Fundo da Gaveta, de Vasco Pulido Valente (D. Quixote)