Dez livros para comprar na Feira
Livro dez: Sonhos Públicos, de Joana Amaral Dias
Edição D. Quixote, 2018
287 páginas
Num país onde é cada vez mais invulgar a edição de livros sobre filmes, esta excepção à regra já seria uma boa notícia. Acontece que se trata de um excelente guia sobre cem longas-metragens estreadas no século XXI, o que reforça a satisfação do leitor cinéfilo. Mais: é uma obra muito bem escrita, com rara elegância e atenção aos detalhes, ainda por cima sem mutilar consoantes - justificando destaque também por isso.
Joana Amaral Dias gosta de cinema, tem uma vasta cultura fílmica e fornece-nos peculiares pistas de análise, reforçando-nos a vontade de ver ou rever cada película aqui destacada. São de géneros muito diferentes, das mais diversas origens, e ultrapassam largamente os chamados blockbusters que hoje quase monopolizam as atenções daquilo a que antes costumávamos chamar crítica mas que há muito se rendeu à pressão publicitária.
Psicóloga de profissão, a autora recorre com frequência à bagagem científica para conferir um toque adicional de originalidade à sua visão cinéfila, aqui repartida por dez capítulos temáticos: "O cinema de guerra, terror e dor"; "Amar no século XXI: bebés, vampiros & lagostas"; "Seja um animal & prove que não é um robô"; "Filmes falantes - o cinema do século XXI sobre o século XX"; "Crise e a cultura maníaca do novo milénio"; "Apocalipses, distopias, super-heróis & muitos zombies"; "Politicamente insurrectos - clichês, estereótipos e linguagem"; "Os media têm efeitos especiais?"; "Cinema sonho" e "Terá o cinema um final feliz? O cinema, as outras artes e o século XXII".
Por aqui passam, naturalmente, vários filmes da minha vida. E das vidas de tantos de nós. Cito alguns: Disponível Para Amar, Fala Com Ela, Cidade de Deus, Antes que o Diabo Saiba que Morreste, Estado de Guerra, A Troca, Amor, Nebraska, Birdman, Manchester by the Sea.
«Pensar os filmes é ganhar perspectiva sobre as pessoas e a sociedade. Os filmes são janelas, janelas espelhadas sobre e da comunidade, que permitem olhá-la mas, simultaneamente, reflectem-na. Reflectem-nos.» Palavras de Joana Amaral Dias na introdução àquilo a que chama o seu "quarto escuro".
Poucas vezes uma escuridão nos terá iluminado tanto.
Sugestão 10 de 2016:
Bairro Ocidental, de Manuel Alegre (D. Quixote)
Sugestão 10 de 2017:
Santos e Milagres, de Alexandre Borges (Casa das Letras)