Dez livros para comprar na Feira
Livro oito: Quem Meteu a Mão na Caixa, de Helena Garrido
Edição Contraponto, 2018
215 páginas
O colapso do sistema financeiro português na última década apanhou desprevenidos quase todos os nossos especialistas da imprensa econímica. Foram raros - excepções honrosas - aqueles que souberam prevenir em tempo útil a opinião pública sobre os sérios riscos que o País corria, entregue à ganância de uns e à incompetência de outros, com a cumplicidade de um poder político que não olhava a meios para atingir os fins.
Helena Garrido esteve entre aqueles que souberam interpretar os sinais, separando o trigo do joio. Sem entoar hossanas aos protagonistas dos poderes fácticos de turno. Tem agora, portanto, autoridade moral para recapitular pormenores do despudorado assalto à banca cometido por uma turba de comissários políticos travestidos de gestores. Já o tinha feito num livro anterior, intitulado A Vida e a Morte dos Nossos Bancos. Prossegue a empreitada com Quem Meteu a Mão na Caixa, surgido nos escaparates há poucas semanas.
Nome feliz para retratar uma infelicíssima realidade: aqui se disseca uma «história que envergonha o País», como assinala o subtítulo da obra assinada pela experiente jornalista que passou pelas direcções do Diário de Notícias e do Jornal de Negócios. Banco público, a Caixa Geral de Depósitos foi pasto de jogos políticos e empresariais que quase a conduziram à ruína.
Esta obra tem, desde logo, a enorme vantagem de chamar as coisas pelos seus nomes: basta esta garantia para o leitor saber que não lhe é servido gato por lebre. Helena Garrido diz ao que vem nas linhas iniciais: «Na recente história da Caixa há de tudo. Credora discreta de homens sem dinheiro que “querem” ser donos de grandes negócios. Investidora em projectos de “interesse nacional”. Accionista nos bastidores a dar palco aos defensores dos “centros de decisão nacional”. Canal de dinheiro para viabilizar “investimento directo estrangeiro”. Financiadora de especuladores bolsistas e imobiliários. Centro de empregos, influência e poder dos governos.»
Dá que pensar: isto é serviço público, na medida em que funciona como um poderoso alerta cívico. Para evitarmos que os mesmos erros lapidares e os mesmos inaceitáveis ilícitos possam repetir-se outra vez.
Sugestão 8 de 2016:
Todos os Fogos o Fogo, de Julio Cortázar (Cavalo de Ferro)
Sugestão 8 de 2017:
Prantos, Amores e Outros Desvarios, de Teolinda Gersão (Porto Editora)