Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Dez livros para comprar na Feira

Pedro Correia, 02.06.18

9789896417925[1].jpg

 

Livro dois: Deuses de Barro, de Agustina Bessa-Luís

Edição Relógio d' Água, 2017

150 páginas

 

Foi um dos acontecimentos literários da mais recente temporária literária em Portugal. O primeiro romance de Agustina Bessa-Luís - escrito ao 19 anos, entre Agosto e Outubro de 1942, na quinta da famíllia em Godim, na Régua, junto ao Douro - passou enfim ao prelo, com a chancela da editora que promete lançar a sua obra completa, dando cumprimento a uma meta antes traçada pela Babel, sem resultado palpável.

Agustina, romancista maior, já revela nesta obra de aprendizagem alguns dos seus traços essenciais. Desde logo a inclusão dos protagonistas em espaços mentais herméticos, mesmo quando inseridas em cenários naturais de horizontes largos, como acontece neste livro onde os ecos remotos da II Guerra Mundial chegam ao espaço rural onde se movimentam figuras da burguesia citadina ali em férias – sem o deslumbramento que o Jacinto de Eça sentiu ao descobrir Tormes.

Quando a corrente neo-realista impunha a sua particular visão do mundo, baseada em conflitos sociais, a jovem Agustina descrevia uma sociedade também muito estratificada – patente até nas marcas da oralidade de cada personagem – mas crivada de agrestes conflitos emocionais e pela atrofiada condição feminina, sujeita à moral do tempo.

A escritora tentou editá-lo na altura, sem sucesso, com o pseudónimo Maria Ordoñez. E logo rumou a outros textos de ficção, deixando o manuscrito juvenil de parte. Durante décadas.

«Este romance apareceu em 1976, quando a casa do Douro foi vendida e tive de a esvaziar de tudo o que gerações guardaram. Apareceu no fundo de uma mala de porão, entre maços de cartas de familiares de Zamora, e fotografias de afilhados esquecidos pelo mundo.» Palavras da filha, Mónica Baldaque, no imprescindível prefácio que nos introduz nestes Deuses de Barro.

Obra imperfeita, sim. Mas que merece leitura atenta. Para avaliarmos a carpintaria técnica e o imaginário de uma autora que viria a legar-nos A Sibila e Os Meninos de Ouro. Sempre com voz própria – incómoda e sedutora, desde logo também por isso.

 

 

Sugestão 2 de 2016:

Nada, de Carmen Laforet (Cavalo de Ferro)

 

Sugestão 2 de 2017:

Singularidades, de A. M. Pires Cabral (Cotovia)

4 comentários

Comentar post