Dez anos sem Maria José
Fui repórter parlamentar durante cinco anos. Nessa qualidade, em representação do Diário de Notícias, tive o privilégio de conhecer excelentes deputados - em todas as bancadas. Uma das pessoas que mais me impressionaram, desde os meus dias iniciais na Assembleia da República, foi Maria José Nogueira Pinto. Quis o acaso que tivesse sido ela a primeira representante parlamentar com quem falei para redigir a minha notícia número um no DN, em Janeiro de 1997.
Entrevistei-a várias vezes depois disso, nomeadamente quando se tornou a primeira mulher a liderar uma bancada parlamentar em São Bento, eleita pelo CDS. Numa dessas ocasiões, concedeu-me a entrevista na fascinante mansão familiar do Campo Grande, repleta de livros, memórias e múltiplas marcas de discreto requinte.
Era frontal, enérgica, culta, determinada, profundamente empenhada na vida pública e com elevados padrões de ética pessoal que fazia questão de transpor para a política. Era uma mulher de convicções firmes e dotada de um carácter muito forte, mas que sabia dialogar com quem se situava nos quadrantes ideológicos mais diversos. Tinha um talento inato para a escrita (tal como o marido, Jaime Nogueira Pinto), interesses que iam muito para além da esfera política (foi ela quem me recomendou que lesse as obras de Nélida Piñon, por exemplo) e uma paciência limitada para a mediocridade reinante nos estados-maiores partidários.
Mantive um gosto enorme em conversar com ela, mesmo quando abandonei o Parlamento. Porque havia sempre alguma coisa a aprender com Maria José Nogueira Pinto. E houve, até ao fim: a extraordinária coragem física e a dignidade de que deu provas enfrentando a terrível doença que acabou por vitimá-la constituiu admirável - embora doloroso - exemplo para todos nós.
Custa-me a crer, mas já passaram dez anos. Há pessoas que deixam um vazio impossível de preencher. Foi o caso dela. Pensei isso na altura e continuo a pensar assim.