Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Destituição?

jpt, 29.10.18

45000733_2117830914950508_8370902087516553216_n.jp

Isto começou com alguns conhecidos jornalistas da esquerda socialista que botam nos "jornais de referência", foi secundado por "opinadores". Para meu espanto até por antropólogos (ironizo um pouco quanto a este espanto, no seio da corporação surpreende-me a desfaçatez mas não o pensamento). Defende-se o escrutínio dos votos dos imigrantes brasileiros em Portugal para opinar sobre a pertinência da sua permanência no país. A indução de um ambiente de pressão, moral que seja, sobre essa "comunidade" - que será muito mais um colectivo inorgânico de indivíduos, contendo alguns núcleos de sociabilidade e de entrejuda mas não exclusivos. De facto, a exigência que estes cidadãos legalmente residentes ("documentados", na gíria politicamente correcta desta falsa "esquerda") assumam - relativamente ao seu país e, em sentido lato, face ao mundo - os valores político-culturais putativamente dominantes na sociedade que os acolheu. Nos termos dos intelectuais (e dos antropólogos em particular) trata-se da exigência de uma "assimilação", perspectiva sempre contestada quando relativa a imigrantes oriundos da Ásia ou da África. Uma vontade assimiladora que é sempre dita efeito de racismo, de lusotropicalismo, de imperialismo, de (neo)colonialismo (o prefixo está a ficar em desuso muito por influência do pensamento boaventuriano, que tornou "colonialismo" um all aboard para definir a história moderna e contemporânea). 

Esta ênfase persecutória sobre os brasileiros é ainda por cima discriminatória, de modo paternalista, essa suprema face do racismo: ninguém nesta "esquerda", se preocupa em andar a escrutinar os votos (se os houver) dos imigrantes nepaleses, dos paquistaneses ou bangladexes, integrados em processos eleitorais complexos, entre ascensões de comunistas, "trumps" asiáticos e fundamentalismos islâmicos; ninguém se lembra de tentar encontrar as simpatias políticas dos imigrantes magrebinos ou do ocidente subsahariano, onde abundam os radicalismos islamófilos. E se alguém aventar a necessidade de fazer essa pesquisa, logo a corporação antropológica (olha logo estes) e os jornalistas do ex-DN e do Expresso, virão contestar, desabridos, a deriva persecutória, racista, securitária. Mas sobre os brasileiros, o voto no energúmeno bolsonar? Tudo é permitido. Isto mostra bem o paroquialismo desta classe-média locutora portuguesa mas também a incongruência e mediocridade intelectual e moral deste meio. Pois trata-se de um meio ambiente, não apenas de alguns miseráveis: eles botam estas coisas e não há, nos seus contextos de referência, partidários, profissionais, uma única voz crítica. Se algum jornalista do CM ou do Observador, se algum professor da Católica ou do ISCSP, escrevesse sobre a necessidade de escrutinar os votos dos imigrantes angolanos ou mauritanos para aferir da pertinência da continuidade dessa comunidade? O que diriam jornalistas, antropólogos e outros intelectuais, as presidentes da junta socialistas, os "comunicadores" e bloguistas-facebuqueiros? O que escreveriam os anticolonialistas directores dos jornais de referência, ex-diários que acolhem estes verdadeiros xenófobos nas suas páginas e nem tugem nem mugem? Mas este lixo? Passa. Porque os seus locutores "fazem parte ...", "são dos nossos" ...

Margarida Martins, a conhecida guida gorda do frágil, é diferente. Pois é presidente de uma junta de freguesia lisboeta, eleita no PS. Tem responsabilidades oficiais. Representa a besta exactamente como os outros locutores, do Expresso de Balsemão, do DN de Ferreira Fernandes ou das universidades, sejam estas quais forem. Mas representa-a assente, sentada, num cargo público para o qual foi eleita nas listas do partido do governo. Para mais é presidente de Arroios, freguesia onde coabitam imigrantes de dezenas de nacionalidades. E tem este tipo de mentalidade persecutória (e assimilacionista) face a "comunidades" imigradas. Isto é um óbvio caso que requer a destituição. Pelo menos a retirada de apoio de um partido que está no governo e anda com a prosápia que anda - ali logo ao lado a mandar construir um templo com fundos públicos, destinado aos estrangeiros, por exemplo.

Claro que os jornais de referência não a atacarão. Afinal a "guida" é "lisboa". E, mais do que tudo, é "pêésse", das "nossas".

Um gajo olha para esta gente, estes guidas gordas, estes jornalistas rastejantes, estes antropólogos "de esquerda", e lembra-se, constata, que, como todos, tem um bolsonaro cá dentro. Há que o reprimir. Ser cívico, civilizado. E, nesse civismo, clamar o óbvio: Margarida Martins tem que ser destituída. Isto é inaceitável. Os restantes têm que ser desprezados. E ditos.

7 comentários

  • Imagem de perfil

    Sarin 29.10.2018

    A recusa em participar nas comemorações que refere não se deveu ao partido ser errado - na óptica dos mencionados foi-o muitas vezes e a recusa não foi constante. Recusaram a participação pela falta de respeito que consideraram ter sido demonstrada - porque, doa a quem doer, a história pertence a todos mas nem todos estiveram do mesmo lado dos acontecimentos e, nesse particular, sim, uns têm mais direito em fazer valer a sua opinião quanto às comemorações do que outros. Afinal, comemora-se no 25 de Abril a Liberdade mas também o fim da tortura - e ainda vivem muitos dos que foram torturados.
  • Imagem de perfil

    jpt 29.10.2018

    Deixe-se de coisas A arrogância de considerar que o governo e respectiva maioria parlamentar não representava a democracia foi um insulto aos votantes A liberdade e a democracia não é dos ex-torturados, esse é um argumento a la PC que depois o PS quis monopolizar Até parece mal esse tipo de argumentação
  • Sem imagem de perfil

    Pedro 29.10.2018

    https://sicnoticias.sapo.pt/pais/2010-07-20-jorge-miranda-teme-despedimentos-arbitrarios-com-revisao-proposta-pelo-psd1

    O social-democrata Aguiar Branco provocou risos na AR ao citar Lenine para defender a revisão constitucional a propósito das comemorações do 25 de Abril

    «Mais do que nunca temos que o normalizar, depurá-lo de velhos vícios de pensamento, eliminar os preconceitos ideológicos. Não se trata de acabar com o Estado social, este é que se arrisca a ser inviável se nada fizermos. Não se trata de eliminar a autoridade do Estado, este é que se arrisca a deixar de a ter se nada fizer. Não se trata de acabar com a igualdade de oportunidades, ela é que pode ter os dias contados se nada se fizer», disse.

    Vê jpt. A ideia que se pretende associar. O 25 de Abril e a sua Constituição são vermelhas, assim como os capitães!!
  • Imagem de perfil

    jpt 30.10.2018

    Conheço o estilo O insuspeito Expresso comemorava os 40 anos do 25 de ABril com uma entrevista, colada na primeira página, com o terrorista Carlos Antunes. Um tipo pergunta-se porquê? É que nem a maioria dos militares era de esquerda ou extrema-esquerda nem a maioria da população Mas para os jornalistas do Publico, do Expresso e do DN o 25 de Abril e a liberdade são representáveis pelos terroristas do PRP-BR. Faz-me lembrar uma historiadora de Coimbra que escreveu um texto biográfico de Otelo para publicar num conhecido blog, nele considerando que só os tipos da extrema-direita, adversários da democracia, náo gostam desse militar. O interessante é que a historiadora, que tem obra publicada sobre essa época, elidia nesse texto elogioso (e apresentado como obra de historiadora) a ligação de otelo com o terrorismo pós-25 de ABril. Quando lá botei que a historiadora, funcionária pública, deveria ser despedida por ser falsária e negacionista a dona do blog, toda esquerda, toda democrática, toda acolhedora das imundas mentiras da funcionária pública (que para a sua aldrabice é protegida pelos nomes grandes de Coimbra) ficou muito incomodada. A tralha é a mesma, a desonestidade é a mesma. O salário do Estado é que é o relevante.
  • Sem imagem de perfil

    Pedro 30.10.2018

    Infelizmente para muitos opinadores os estrategas militares e políticos do 25 de Abril eram socialistas moderados e não de ideologia de Direita conservadora, excepto o Spínola - e veja-se como acabou. Melo Antunes, Costa Gomes, Vasco Gonçalves, Vitor Alves....Mário Soares. ....Salgado Zenha, Jorge Sampaio, Almeida Santos....É a vida pá!

    Os de Direita que apareceram depois, de tacões, estava na ala "moderada" da União Nacional/Acção Nacional ...estavam integrados na fantochada

  • Imagem de perfil

    jpt 30.10.2018

    Almeida Santos ...? estou-me a rir tanto que nem vou poder responder
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.