DELITO há dez anos
José António Abreu: «Wild River (Quando Rio se Enfurece) é um Kazan ligeiramente menos teatral do que as suas obras da primeira metade da década de 50 (Um Eléctrico Chamado Desejo, Há Lodo no Cais, A Leste do Paraíso). Pode até ser visto como uma primeira versão do filme seguinte, Esplendor na Relva. Inclui, porém, quase todas as suas marcas registadas: method acting, luta entre forças desiguais, preocupações sociais (neste caso, ligadas à questão racial), desejos reprimidos, paixões que se confundem com amor e são sobretudo desejo de escapar à realidade em que se vive.»
Sérgio de Almeida Correia: «Quando um povo convive habitualmente com o lixo acaba por se habituar ao cheiro. O céu azul e o sol nos olhos cegou-o. Desde que o lixo não lhe tape o sol, a gente não se importa porque mesmo cega tem sol, mar e quem lhe dê música. Se um dia lhes tirarem o lixo ainda irão estranhar. Com medo que o sol que os faz assim lhes falte.»
Teresa Ribeiro: «Também por cá não nos faltam recursos linguísticos para humilhar o próximo. A diferença que por enquanto existe entre uma sociedade como a americana e a nossa é que ainda não é compulsiva, mecânica e massiva a utilização do insucesso como arma de arremesso. Mas tudo indica que estamos quase lá. Há dias, no cinema, um anúncio a uma aplicação para telemóvel rematava com o icónico vocábulo. "Loser", assim mesmo, sem tradução. Para que o conceito passe com toda a sua força expressiva e fique.»