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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 14.02.25

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José António Abreu: «Um dia, por volta das três e meia da tarde, João ia a sair, depois de concluir o turno, quando a viu dirigir-se para o carro. Parou. Trabalhando em horários desencontrados, nunca tinha oportunidade de falar com ela. Mas agora ali estava, saindo mais cedo por qualquer razão. Começou a caminhar na direcção do carro dela, tentando lá chegar ao mesmo tempo que ela. Estavam ambos a cerca de dez metros quando ela o viu. João notou as olheiras e o ar cansado e ficou sem coragem para meter conversa. Disse «Boa tarde» ao passar por ela e continuou a caminhar. Que se lembre, ela não falou. João só olhou para trás quando ouviu o carro arrancar. Depois foi para casa.»

 

Teresa Ribeiro: «Enquanto escrevo estas linhas olho para o Boogie, o meu erro de casting, que se aninhou, esfíngico, a dois palmos de mim. No deve e haver dos afectos, este está claramente em vantagem. Nunca o verguei. É demasiado selvagem para se render a afagos e latas de whiskas. Da sua estirpe rafeira constam muitos sobreviventes, não duvido. Trinca espinhas que resistiram à fome, ao frio e à crueldade humana com todas as ganas. E lá estou eu a justificar-lhe a agressividade opondo-o aos da minha espécie, que tenho sempre mais dificuldade em desculpar. Vai-se a ver e é isto. O amor que reservo para os humanos é mais exigente.»