DELITO há dez anos
Teresa Ribeiro: «No intervalo do cinema:
- Aos 20 não sabemos que aos 40 acabamos a fazer e a pensar as mesmas patetices.
- E se em 20 anos não aprendemos nada, o mais certo é aos 50 continuarmos a repetir os mesmos erros.
- E como burro velho não aprende línguas, não é aos 60 e aos 70 que vamos mudar.
- Não se aprende nada.
- Nada de nada.»
Eu: «Um Dia na Vida de Ivan Deníssovitch é um livro apropriado ao Inverno. Porque um frio polar o atravessa de ponta a ponta. É um frio extremo, cortante, que tolhe, corrói e mata. Numa atmosfera gelada, de penúria extrema e tão admiravelmente descrita que desde as páginas iniciais também nós, leitores, sentimo-nos vergar ao peso do frio e da fome naquele campo de prisioneiros do Cazaquistão siberiano perdido no mapa, esquecido do mundo, oculto da luz, onde impera a lei do mais forte e a morte prematura é o destino mais comum. O frio vigora em dois planos simultâneos: não é apenas o frio concreto, ditado pelo fatalismo meteorológico, mas também o frio simbólico, pois nestas páginas viajamos aos anos de chumbo do estalinismo na imensa Rússia devastada pelo terror vermelho. Um terror insidioso, que contamina corpos e consciências, apossando-se do país como um vírus letal.»