DELITO há dez anos
Luís Menezes Leitão: «Da mesma forma que Fidel Castro preferiu aguentar um embargo americano que só agora termina, e que foi desastroso para Cuba, a ceder um milímetro que fosse aos Estados Unidos, Tsipras preferirá a catástrofe à continuação da humilhação da Grécia. E neste aspecto a escolha dos Gregos Independentes (ANEL) como parceiro de coligação, um partido de extrema-direita nacionalista e xenófobo, em lugar dos partidos de esquerda moderada, é elucidativa. No combate à troika e à própria União Europeia, quando o SYRIZA disser "mata", o ANEL dirá "esfola". As revoluções precisam de inimigos e o ódio que esta política europeia atiçou na Grécia é demasiado elevado para que se pense que vai tudo acabar em bem. Oxalá me engane.»
Luís Naves: «A chanceler Merkel deverá renunciar ao quarto mandato e escolher sucessor, mas a maior incógnita tem a ver com a evolução do partido anti-euro, o AfD. Se houver muitas concessões ao Syriza, essa formação, Alternativa para a Alemanha, vai subir nas sondagens e começará a ameaçar o projecto europeu dos partidos tradicionais. Cada avanço do populismo, seja na Grécia, Espanha ou França, é um desaire para os alemães federalistas e um contributo para fortalecer os eurocépticos que querem o isolamento de Berlim. Em Portugal, há quem ainda não tenha percebido o verdadeiro perigo dos partidos populistas: o que ajuda a desligar a Alemanha da Europa é um pesadelo para todos.»
Teresa Ribeiro: «Também eu ando a seguir Borgen com o maior interesse. (...) Entre a Dinamarca, que está permanentemente no topo do ranking dos países com melhor qualidade de vida, e Portugal afinal só pode haver diferenças. Através de Borgen, as que melhor se observam passam ao lado da trama política. Um contraste que salta à vista é o estilo de vida da protagonista, mãe de dois filhos menores e que no início da série ainda vemos casada. Apesar de ser primeira-ministra e mulher de um professor universitário, a sua vida familiar decorre dentro de padrões que entre nós só são expectáveis numa vulgar família de classe média. O casal não tem empregada e divide entre si as tarefas domésticas. Não há mordomias, nem luxos, é tudo muito frugal.»